Tiradentes, o mito

Jessé Ojuara


Aviso de ausência de Jessé Ojuara
NO

 

Não penso ou vou matar
Certos mitos afamados
Mas eu só quero e desejo
Ver os fatos resgatados
Em nome da boa história
De alguns heróis criados

Falo então de Tiradentes
O Mineiro inconfidente
Conhecido no Brasil
Como um herói resistente
Que morreu por sua pátria
Uma história comovente

Você precisa entender
Toda história é criada
Por interesses políticos
Tem tradição inventada
Para dar sustentação
Mas tenho a mente afiada

Tiradentes nasceu rico
Foi na fazenda Pombal
Depois pobre ele ficou
Por dívidas, coisa e tal
Morou com tio Dentista
Um sujeito bem legal

Depois entrou pro exército
Alferes sua patente
Se mistura com a elite
Só então vira insurgente
Na luta contra derrama
Um imposto indecente

A causa inconfidente
Não pensava no Brasil
Apenas nos interesses
De uma elite bem vil
Que via sua fortuna
Escoar pelo funil

A cobiça Imperial
Mais que um quinto quería
Então criou a derrama
Que da elite exigia
Quase sempre mais impostos
Gerando mais rebeldía

Os filhos da burguesia
Que na Europa estudava
Viu a brisa iluminista
Que por lá já circulava
E trouxeram para Minas
Daí tudo começava

Mas nem todos ideais
Pensava em todo Brasil
Ideais separatistas
De Mineiro bem hostil
Queria nova nação
Minas só e seu covil

Alguns também defendiam
Manter pois escravidão
Mas outros mais progressistas
Faziam oposição
Libertas quae sera tamem
Na bandeira e no bordão

Não esperavam porém
Mas eles foram traídos
Por três dos seus companheiros
Tem dois bem desconhecidos
Joaquim Silverio Reis
Um dos mais favorecidos

Fez delação premiada
Pra coroa Portuguesa
Que perdoou suas dívidas
Pode manter a riqueza
Mais ele entrou para história
Sem honra também nobreza

Ano de noventa e dois
O século era dezoito
Conjurados condenados
Por um júri bem afoito
Que perdoo todos réus
Mas pro Joaquim açoito

Levado pro Pelourinho
Já para ser enforcado
Lá no Rio de Janeiro
Teve o corpo esquartejado
Espalhado pela estrada
Era o fim de um condenado

Antes de findar resumo
Que eu acabo de fazer
Preciso fazer justiça
As mulheres vou dizer
Que a história omitiu
Com patriarcal poder

Teve Hipólita Jacinta
Uma mulher aguerrida
A Maria Joaquina
Muito valente e querida
Noiva de Tomáz Gonzaga
Nunca por ele esquecida

Feito esse breve reparo
Esquecido pela história
Quero só vos alertar
Como se cria memória
Pra defender interesses
Mesmo que sem tanta glória

Foi só no seguinte século
Refiro-me ao dezenove
Ano do nosso senhor
Eu falo de oitenta e nove
Que um tal republicano
Campos Sales nos comove

Joaquim ele promove
A um herói nacional
Com uma nova narrativa
Uma imagem bem legal
E cria um Cristo cívico
Engodo fenomenal

O cúmplice dessa trama
Foi um pintor competente
Um tal de  Pedro Américo
Cria imagem comovente
Que retrata Tiradentes
Como um Cristo penitente

No quadro também inclui
Mensagem subliminar
Até tem um crucifixo
Patíbulo vira altar
Tudo bem manipulado
Com mister de te enganar

Sabemos que todo preso
Tinha cabeça raspada
Mesmo se fazia na barba
Era faxina adotada
Para matar os piolhos
Portanto imagem inventada

Pois essa armação perdura
Até hoje meu irmão
Para construir um mito
E ganhar mais adesão
Nesse golpe militar
Imperou a enrolação

Eu findo me desculpando 
Se eu seu mito manchei
Apenas faço relato
Que eu aprendi e pesquisei
Não precisa acreditar
Eu triste não ficarei.

 

  • Autor: Jessé Ojuara (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de abril de 2022 18:33
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 9
Comentários +

Comentários4

  • Maria dorta

    Parabéns pela pesquisa apurada,resgatando nossa história que,de modo ou de outro,sempre é relatada por aqueles que ganhavam,ou mandavam no lugar. São os donos do poder que relatam os fatos,publicam ou se não convém,censuram. Isso é coisa secular. Veja,por exemplo,o que este (dês)governo nosso,tentando " limpar o exército", tentando convencer o incauto,que não houve,no Brasil, nenhuma ditadura militar. Veja aí mais um tema para você desmitificar!

  • Jessé Ojuara

    Grato grande poetisa.

  • Shmuel

    Realmente um belo trabalho, mestre Jessé Ojuara. Abraços!

  • Jessé Ojuara

    Sou só um aprendiz.

    Mestre fica por conta de sua generosidade.

    Gratidão



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