Não penso ou vou matar
Certos mitos afamados
Mas eu só quero e desejo
Ver os fatos resgatados
Em nome da boa história
De alguns heróis criados
Falo então de Tiradentes
O Mineiro inconfidente
Conhecido no Brasil
Como um herói resistente
Que morreu por sua pátria
Uma história comovente
Você precisa entender
Toda história é criada
Por interesses políticos
Tem tradição inventada
Para dar sustentação
Mas tenho a mente afiada
Tiradentes nasceu rico
Foi na fazenda Pombal
Depois pobre ele ficou
Por dívidas, coisa e tal
Morou com tio Dentista
Um sujeito bem legal
Depois entrou pro exército
Alferes sua patente
Se mistura com a elite
Só então vira insurgente
Na luta contra derrama
Um imposto indecente
A causa inconfidente
Não pensava no Brasil
Apenas nos interesses
De uma elite bem vil
Que via sua fortuna
Escoar pelo funil
A cobiça Imperial
Mais que um quinto quería
Então criou a derrama
Que da elite exigia
Quase sempre mais impostos
Gerando mais rebeldía
Os filhos da burguesia
Que na Europa estudava
Viu a brisa iluminista
Que por lá já circulava
E trouxeram para Minas
Daí tudo começava
Mas nem todos ideais
Pensava em todo Brasil
Ideais separatistas
De Mineiro bem hostil
Queria nova nação
Minas só e seu covil
Alguns também defendiam
Manter pois escravidão
Mas outros mais progressistas
Faziam oposição
Libertas quae sera tamem
Na bandeira e no bordão
Não esperavam porém
Mas eles foram traídos
Por três dos seus companheiros
Tem dois bem desconhecidos
Joaquim Silverio Reis
Um dos mais favorecidos
Fez delação premiada
Pra coroa Portuguesa
Que perdoou suas dívidas
Pode manter a riqueza
Mais ele entrou para história
Sem honra também nobreza
Ano de noventa e dois
O século era dezoito
Conjurados condenados
Por um júri bem afoito
Que perdoo todos réus
Mas pro Joaquim açoito
Levado pro Pelourinho
Já para ser enforcado
Lá no Rio de Janeiro
Teve o corpo esquartejado
Espalhado pela estrada
Era o fim de um condenado
Antes de findar resumo
Que eu acabo de fazer
Preciso fazer justiça
As mulheres vou dizer
Que a história omitiu
Com patriarcal poder
Teve Hipólita Jacinta
Uma mulher aguerrida
A Maria Joaquina
Muito valente e querida
Noiva de Tomáz Gonzaga
Nunca por ele esquecida
Feito esse breve reparo
Esquecido pela história
Quero só vos alertar
Como se cria memória
Pra defender interesses
Mesmo que sem tanta glória
Foi só no seguinte século
Refiro-me ao dezenove
Ano do nosso senhor
Eu falo de oitenta e nove
Que um tal republicano
Campos Sales nos comove
Joaquim ele promove
A um herói nacional
Com uma nova narrativa
Uma imagem bem legal
E cria um Cristo cívico
Engodo fenomenal
O cúmplice dessa trama
Foi um pintor competente
Um tal de Pedro Américo
Cria imagem comovente
Que retrata Tiradentes
Como um Cristo penitente
No quadro também inclui
Mensagem subliminar
Até tem um crucifixo
Patíbulo vira altar
Tudo bem manipulado
Com mister de te enganar
Sabemos que todo preso
Tinha cabeça raspada
Mesmo se fazia na barba
Era faxina adotada
Para matar os piolhos
Portanto imagem inventada
Pois essa armação perdura
Até hoje meu irmão
Para construir um mito
E ganhar mais adesão
Nesse golpe militar
Imperou a enrolação
Eu findo me desculpando
Se eu seu mito manchei
Apenas faço relato
Que eu aprendi e pesquisei
Não precisa acreditar
Eu triste não ficarei.