YES
subdivididos em lástimas,
irradiando dor sombria de decepção,
no rosto semi plástico cáustico opaco
já sulcaram sangue e veneno.
mas não é tudo igual?
o nosso ácido habitual,
como a palavra cinza vestida de gumes,
ou olhos que desistiram da luz,
nossa presença pesada neste ambiente frágil...
nós já sabemos muito bem
que a órbita elíptica do assombro é eterna,
um laço gravitacional que nos atrai
e depois joga nossa estima espaço fora,
nos deixando nus como selvagens,
agarrados ao calor das mentiras
que aqueciam o gelo de nossas falhas.
(e será certo este caminhar interminável pela esfera banhado pelos fótons?
é este mesmo o destino, o atravessar todos equadores com as unhas roídas,
olhos injetados de quem esqueceu de dormir e sonhar no último século?
só tem uma faceta a ira e ela é uma ferida preta e profunda,
ela risca o céu e é uma maldição vertical e vertiginosa,
é lança e adaga que apunhala o ar e extrai lágrimas das estrelas sujas.
o universo acertou em não me permitir voar
porque eu seria uma espécie de tragédia veloz,
vomitando girassóis radioativos sobre cada vida ingênua como a minha).
- Autor: Marco Chies ( Offline)
- Publicado: 3 de março de 2022 00:12
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 13
Comentários1
Poema interessantíssimo, original, com uma beleza densa, vocabulário desafiante e intrigante!
Bravo, poeta!
Abraço
Obrigado, Hébron!
A chance de obter êxito em qualquer poesia é bastante remota,
a tendência é a queda no lugar comum.
Eventualmente eu me percebo atraído pela mesmice que a preguiça oferece,
caindo em cada um dos buracos rasos que encontro pela frente...
Acho que a pepita de ouro está logo ali abaixo daquela pilha de sentenças padronizadas,
o problema não é nossa lavra ser pobre; é a bateia que não quer trabalhar!
Boa semana, meu amigo!
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