subdivididos em lástimas,
irradiando dor sombria de decepção,
no rosto semi plástico cáustico opaco
já sulcaram sangue e veneno.
mas não é tudo igual?
o nosso ácido habitual,
como a palavra cinza vestida de gumes,
ou olhos que desistiram da luz,
nossa presença pesada neste ambiente frágil...
nós já sabemos muito bem
que a órbita elíptica do assombro é eterna,
um laço gravitacional que nos atrai
e depois joga nossa estima espaço fora,
nos deixando nus como selvagens,
agarrados ao calor das mentiras
que aqueciam o gelo de nossas falhas.
(e será certo este caminhar interminável pela esfera banhado pelos fótons?
é este mesmo o destino, o atravessar todos equadores com as unhas roídas,
olhos injetados de quem esqueceu de dormir e sonhar no último século?
só tem uma faceta a ira e ela é uma ferida preta e profunda,
ela risca o céu e é uma maldição vertical e vertiginosa,
é lança e adaga que apunhala o ar e extrai lágrimas das estrelas sujas.
o universo acertou em não me permitir voar
porque eu seria uma espécie de tragédia veloz,
vomitando girassóis radioativos sobre cada vida ingênua como a minha).