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Marco Chies

A ÓRBITA ELÍPTICA

subdivididos em lástimas,

irradiando dor sombria de decepção,

no rosto semi plástico cáustico opaco

já sulcaram sangue e veneno.

mas não é tudo igual?

o nosso ácido habitual,

como a palavra cinza vestida de gumes,

ou olhos que desistiram da luz,

nossa presença pesada neste ambiente frágil...

nós já sabemos muito bem

que a órbita elíptica do assombro é eterna,

um laço gravitacional que nos atrai

e depois joga nossa estima espaço fora,

nos deixando nus como selvagens,

agarrados ao calor das mentiras

que aqueciam o gelo de nossas falhas.

(e será certo este caminhar interminável pela esfera banhado pelos fótons?

é este mesmo o destino, o atravessar todos equadores com as unhas roídas,

olhos injetados de quem esqueceu de dormir e sonhar no último século?

só tem uma faceta a ira e ela é uma ferida preta e profunda,

ela risca o céu e é uma maldição vertical e vertiginosa,

é lança e adaga que apunhala o ar e extrai lágrimas das estrelas sujas.

o universo acertou em não me permitir voar

porque eu seria uma espécie de tragédia veloz,

vomitando girassóis radioativos sobre cada vida ingênua como a minha).