Bicho do mato

Amadeu Campos

Bicho criado no mato

Saco de piadas, desafortunado

Menino perdido, Peter Pan desvairado

Sem Wendy, sem pó de pirlimpimpim

Trazido à baila pelos desconjurados

Efetivo ser entre os desajustados

Garoto por vezes belo, mas nunca entendido

Terror da vizinhança, bandido enrustido

Caiu em desgraça já no nascimento

Teimoso feito um jumento

Brincar de bandido e polícia

Sonhando entrar pra milícia

Amoroso, mas nem tanto

Sem lembranças de acalanto

Criado jogado ao léo

Simples e desconjuntado bedel

Sonhos permeando suas noites

Há mais de um milhão de pernoites

Saltimbanco paraplégico

Arremedo de médico

Aliás, está mais pra curandeiro

Desses que acha paradeiro

Do amor que de repente se partiu

Com sortilégio à beira do rio

Não é difícil enganar alguém

Basta alegar que enxerga além

Do que o simples cidadão vê

Todos os dias na tv

Eita menino danado!

Mesmo sem eira nem beira

Espalha confusão pra todo lado!

E vai seguindo assim

Sem ter pena sequer de mim

Seu desgostoso criador

Pois não sou eu que sinto a dor?

E foi com ardor que ele se impôs

E assumiu tudo o que veio depois

Passei a ser mero espectador

E aí a vida se tornou incolor

Cheia de vícios, desilusões

Destruímos assim diversos corações

Mas o que fazer?

Da vida só nos cabe saber

Que ela é pra ser vivida intensamente

Ainda que não muito decentemente

Há que se ter a certeza, contudo

Que o espaço é deveras porrudo

Certamente dá pra todo mundo

Em algum quadrado, raso ou extremamente profundo

E é nesse entendimento

Que baseio o meu pensamento

Nesse exato momento

Sem nenhum ressentimento

Junto-me às estrelas distantes

E tudo volta, ainda que por um instante

A ser colorido como antes.

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Autor: Amadeu Campos (Offline Offline)
  • Publicado: 25 de maio de 2020 18:39
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 9
Comentários +

Comentários1

  • CORASSIS

    Bom enredo!
    Belo texto !Parabéns poeta .
    Abraço

    • Amadeu Campos

      Obrigado pelo incentivo. Forte abraço!



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