No centro da verde mata
Onde se dançou o catira
Tem murmúrio da cascata
Qual chilrear da curruíra
Há harmonia desse som
Tal coração que suspira
Vem do ventre do sertão
A essência desse caipira
Na curva do rio ligeiro
Na casinha de palhoça
Cresceu esse brasileiro
Retrato da origem nossa
Caboclo rude e pachola
No rangido da carroça
Nas rodas canto e viola
Feito lá dentro da roça
Urutau quebra o silêncio
Na noite cantando rouco
Pousa em galho suspenso
Que fica em riba do toco
Ouvindo o som da viola
O coração dói um pouco
Pulsa o átrio da história
Nessa alma de caboclo
O vento farfalha folhas
Do galho da guajuvira
Caem não tem escolha
Nos rastros do curupira
As águas lá da cascata
Rolam no som do catira
E o bom violeiro retrata
Cantando a vida caipira
- Autor: Arlindo Nogueira (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 1 de fevereiro de 2022 00:37
- Comentário do autor sobre o poema: Escrevi esse Poema, quando li o livro ‘Os parceiros do Rio Bonito’ de Antônio Cândido (2001), que fala da Cultura Caipira, entre os séculos XVI e XVIII. Segundo o autor, as características do caipira podem ser exprimidas da seguinte maneira: "Seu coração é animoso, seu juízo grosseiro, são robustos e fortes capazes de sofrer os mais intoleráveis trabalhos, seus vícios são a presunção e a desconfiança, vingança e sobretudo preguiça. O abrandamento dos costumes veio com o hábito sedentário da agricultura estabelecida como ocupação central no século XVIII."(CANDIDO, A., 2001). O início da sociedade caipira deu-se em consequência ao movimento conhecido como Bandeirismo, no século XVI, realizado pelos colonizadores portugueses em busca de novos territórios ainda não desbravados do interior do estado de São Paulo. As primeiras formas de sociedade caipira eram sustentadas por uma economia de subsistência aliadas às técnicas para equilibrar a relação do grupo com o meio ambiente, característica esta obtida das heranças culturais que receberam. O aspecto festivo constitui um dos pontos importantes da vida cultural caipira, que se reuniam em mutirão, ajudando alguém, o qual tinha a obrigação moral de retribuir a ajudar quando convocado. Na música, os ritmos e representações eram caipiras, as tradicionais modas de viola, que podem ser encontradas como: o cururu, o catira (ou cateretê), folias de reis, danças de São Gonçalo, congadas, calangos e a moda de viola. Cujo o ritmo é de origem rural, comumente encontrada nas áreas do interior das regiões do Sudeste, Centro-Oeste e algumas áreas do Paraná. Coincidentemente com a área que Antônio Cândido (1998) chamou de “lençol caipira”.
- Categoria: Não classificado
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Comentários1
Como é bonita e sofrida nossa História! Dos Bandeirantes em SO até os exploradores campeando no Nordeste,muita águas e sacrifícios de vida podem contar o que resta de nossas matas? Mas,o folclore é belo. Assim como seu poema um primor
Obrigado Maria pelo seu conhecimento da cultura caipira. Agradeço o carinho pelo poema. Forte abraço.
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