INSISTO À TOA

Arlindo Nogueira

O tempo chora sobre a terra seca

A revoada da chuva é demorada

Troveja um dia outro esbraveja

A vida enorme sem água é nada

 

Tempo lento me envolve inteiro

Tal qual o amor da flor que vejo

Na boca doce do sertão brejeiro

Sinto a saliva do primeiro beijo

 

Chove torrencial lá na montanha

A lama escoa em cratera no chão

Cheiro de terra invade entranhas

Instigando a fera pulsa o coração

 

A vida envolve ecos de tormentas

Antes chora a seca agora ri d’água

Risos de ironia da chuva violenta

Que caí da nuvem como lágrimas

 

Nas tardes um livro sozinho eu lia

Lusíada de Camões missivo robusto

“Onde a terra acaba o mar principia”

Insisto à toa há ter senão um susto.

  • Autor: Arlindo Nogueira (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 28 de janeiro de 2022 01:20
  • Comentário do autor sobre o poema: Escrevi o Poema “Insisto à toa”, por ser teimoso com a natureza e construir empiricamente caminhos sem pensar no tempo. No entanto, buscar verdades enquanto elas tentam fugir da competência humana, é insistir à toa. Assim, como na seca, na chuva torrencial, que desconforta estruturas e objetivos sem autorização de ninguém. Ou seja, é vã filosofia manter um buquê na mão, um sorriso no rosto, um olhar para o futuro, sem perder a insistência, embora sobre os fenômenos da natureza, seja à toa.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 22


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