Arlindo Nogueira

INSISTO À TOA

O tempo chora sobre a terra seca

A revoada da chuva é demorada

Troveja um dia outro esbraveja

A vida enorme sem água é nada

 

Tempo lento me envolve inteiro

Tal qual o amor da flor que vejo

Na boca doce do sertão brejeiro

Sinto a saliva do primeiro beijo

 

Chove torrencial lá na montanha

A lama escoa em cratera no chão

Cheiro de terra invade entranhas

Instigando a fera pulsa o coração

 

A vida envolve ecos de tormentas

Antes chora a seca agora ri d’água

Risos de ironia da chuva violenta

Que caí da nuvem como lágrimas

 

Nas tardes um livro sozinho eu lia

Lusíada de Camões missivo robusto

“Onde a terra acaba o mar principia”

Insisto à toa há ter senão um susto.