Marçal de Oliveira Huoya

Águas de Cheiro

Abro a minha mão,
Com o peito fechado,
E num movimento pensado,
Eu deixo a flor seguir a correnteza,
Lágrimas caudalosas de beleza,
Escorrem em redemoinhos,
Fecundando o seu caminho.
Não tenho nenhum queixume,
A flor desceu o rio,
Mas deixou o seu perfume,
Nunca foi minha esta flor,
E nunca foi meu o seu amor,
Mergulho a mão na água,
As mãos tremendo de frio,
Lavando as mágoas perfumadas,
Um gesto inútil e vazio,
Em sentir as mãos lavadas,
Como um Pilatos moderno,
Adivinhando o próximo Inverno,
Frio, neve e solidão,
Futuro nublado sem adivinhação,
Sorrio de mim, esfregando as mãos
E me aqueço, lembrando do começo,
Anunciando o fim,
E nem que descesse esse rio um jardim,
Um canteiro inteiro de flores novamente,
Mesmo que eu me curvasse,
E me ajoelhasse, de repente,
E que todas as flores eu carregasse,
Nada mais seria igual,
Pois agora tudo seria diferente,
Pois a minha flor especial,
Agora já desapareceu,
E em alguma outra margem,
Ao fim da sua viagem,
Uma outra mão já a colheu...

  • Autor: Vênus (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 29 de Outubro de 2021 14:07
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 11

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