Edifício.

Beatrizsa_1

Eu construí um edifício

que não era de concreto

tampouco continha silício

era apenas uma engenhosidade

um capricho, sem um pingo

de maldade

que brotou em meu coração;

 

Neste edifício eu incorporei

toda a minha ambição

havia nele também um quê

de uma grandiosa paixão

que um dia acalentou o meu viver

mas que agora, terminado o edifício

eu mesmo a fiz morrer;

 

Minhas lembranças passaram a assombrar

minha alma, que agora

já não sabe mais o significado de amar

então me vi coagido, e o tal edifício

ganhou um aspecto epopeico

e ruiu múltiplos ecos;

 

Eu me fiz escravo

dos meus caprichos e ambições

por culpa destes flertes

com as seduzentes ilusões

e eu queria, ardentemente

que meu edifício virasse agora, instantaneamente

um amontoado de concreto

e assim me dessem sossego, por obséquio;

 

Construiu-se em mim, sem eu perceber

um tumor, que apelidei de fardo

fiz um luto em nome do amor

e ele alimentava-se, deliciava-se

até que um dia fez seu louvor

e sendo já maior do que o próprio edifício

simplesmente o assassinou;

 

Então fiquei destituído

de paixões, ambições ou edifícios,

e cousa alguma me preenchia

num repente senti saudades das minhas mãos

banhadas do sangue do amor

que apesar de toda dor

tapava este oco mórbido

agora meu maior opressor;

 

O fardo, contudo, não me retirou tudo

eu ainda não sou cego, nem mudo

e caminho com os meus pés 

aprendi, afinal, a lidar com o revés

de ser um desapaixonado

portando cicatrizes e estando

eternamente amuado;

 

Chegou a missa do quadragésimo nono dia

e fiz as exéquias em nome do amor

mas de repente, o que jazia obsoleto

se achegou, timidamente

transbordando uma imensidão,

um arroubo de felícia me envolveu de repente

e o cenário, fúnebre

se fez reluzente, tal qual

uma estrela cadente;

 

O fardo, vendo tudo

me sorriu e foi saindo de mansinho

deixou-me, afinal, sem ambições, caprichos

ou edifícios

mas ainda sim me implantou um resquício

que soava estridente

mas na verdade, era clemente

e se expressava no meu trato

perante o ofendido amor.

 

 

  • Autor: Beatrizsa_1 (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de outubro de 2021 11:28
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 12


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