Informo desde já a quem se interessar

Antes que venha a hora da morte me ninar

Meu testamento intenso de uma triste vida

Na qual pouco me veio até minha partida.

 

Eu deixo aqui na Terra, me cumpre informar,

Um monte de boletos e contas a pagar

Empréstimos rolando e a perder de vista

Sem ter quem me ajude, sustente ou assista

 

Eu vou deixar também dois livros publicados

Um deles, o primeiro, vários acumulados

E o outro, o segundo, apenas digital

Pois essa pandemia atrapalhou geral

 

Nenhum dos livros meus vendeu até agora

Mantive a esperança de vir em boa hora

Dinheiro, editora, um reconhecimento

Que me propiciasse viver outro momento

 

Não veio até agora, porém, essa alegria

E assim a vida segue em triste agonia

Dinheiro pouco até para comprar o de comer

Vivendo de favor, de aluguel, o que fazer?

 

Eu moro em um país com povo muito insano

Que deixa de votar num professor cheio de planos

E escolhe um ditador, projeto de nazista

Que tem ódio de pobre, de preto, de letrista

 

Aqueles que o apoiam se vestem de Brasil

Se arvoram patriotas, pátria armada, mãe servil

Mas querem na verdade um país só para os seus

Dinheiro acima de tudo, e tudo em nome de Deus

 

Vontade de ir embora dessa terra até tenho

Problema é que no bairro onde moro e de onde venho

Não tem portão aberto pra quem quer se renovar

Só tem gente assustada, ou armada pra matar

 

O que me deixa triste é que meu grande amor

Que me surgiu pra me aliviar a minha dor

É tão pura e bondosa, talvez eu não mereça,

Eu rezo para eu jamais um dia a adoeça.

 

Porque ela é só sorriso, e eu sou só lamento

Ela é o que eu preciso, em meu triste momento

Enquanto eu sou aquele que atrapalha a sua vida

 

Por isso é que desejo chegue já minha partida

Para que meu amor siga em paz, siga vivendo

Enquanto eu me liberto de meu sofrer, morrendo.