As coisas não ditas estão em cima da mesa junto com os talheres e pratos sujos da noite anterior. Quando as palavras de alguém parecem pequenos estilhaços de vidros descendo pela garganta. As coisas não ditas estão no espremedor que você arranca com força da tomada e ouvimos aquele “tss” de energia, mas ninguém diz nada porque não é o momento ainda. As coisas não ditas estão espalhadas pelos lençóis onde não encontro mais seu cheiro além do amaciante de jasmin. Elas estão nos gestos bruscos que fazemos quando o corpo parece ferver alarmando um perigo iminente. Estão no silêncio corrompido pela campainha ou o telefone e o som da TV, mas nunca nossas vozes. As coisas não ditas ficam presas nos momentos enquanto saímos na esperança de deixar o problema fora de nós. Elas transpassam o tempo e nos encontram em outra discussão ou lembrança ruim, e nos fazem ver que aquilo que não é dito continua sendo alimentado e cresce firmemente feito um monstro.

D. A

Extraído