Retomando o amor à vida
O Sol se foi, junto com o crepúsculo e com as andorinhas,
Tudo que restou ali, inerte sob as estrelas, foi um coração vazio.
Vazio e esvaziado dos suspiros que preenchiam suas linhas,
que agora se limita a ser esboços sem sentido, sem cor e brio.
Ali, com um papel na mão e lágrimas no olhar entristecido,
onde outrora havia algo a ser clamado, não há nada para sentir
Tábula rasa escondida, que fora pintada, mas o gelo apagou o tecido.
E nada há para se sentir, apenas pernas trêmulas, tentando não cair.
Aquele pedaço de papel na mão, amassando um conceito definido
Revelou que é necessário ter em si algo que valha a pena..
Um ponto de luz, uma fagulha acesa, um amor revivido
Algo que acenda a libido na existência hostil desta cena.
No entanto, apesar de pressentir a mudança, esta não é real
Vive no fluir da minha cabeça, paranoia que iludindo me embala
E nessa ilusão mergulho para não enlouquecer sem loucura literal.
As sombras já escureceram meu céu azul e o tornou apático, sem fala.
Cinza, sem cor, nem preto nem branco, não há cores e nada se pintou.
Me escondi em minha própria caverna, impenetrável, apenas só.
Talvez isso se aplique a lúcida sensação de solidão que me armou
Como um cofre sem chave com ânsia de ser aberto, limpando seu pó.
Sei apenas que há muito tempo me enterrei para me entender
E isso recaiu sobre meus ombros com um peso que me fez desabar
Apenas desisti de tentar, respirando por aparelhos para sobreviver.
E assim fui, dia após dia, sem lanças, apenas uma armadura para lutar.
Um simples momento me fez internalizar o quão errôneo estavam meus atos
Eu preciso sentir novamente, quebrar o escudo, somente me permitir.
Necessito daquele arrepio, da saudade, do toque, batimentos acelerados.
Preciso sentir tristeza, dor, alegria, medo e acima de tudo, preciso me abrir
Me abrir inteiramente ao amor, aceitando as falhas e os prazeres que o compõe
Preciso, mais do que preciso de encontrar a chave, acordar minha alma e chorar
Chorar pela vida que sufoquei no espectro infeliz que a amargura impõe.
A vida gerou um feto em seu ventre, agora eu sei, é o verbo amar.
As estrelas sorriem e o vento acalenta tudo em seu devido lugar,
As copas das árvores descansam em sombras escuras e acolhedoras
E enquanto isso seco as lágrimas que trouxeram voz a vida que veio calar,
Calar os dias cinzentos e os vazios intermináveis nas noites arrebatadoras.
Agora, sim agora, posso abrir as asas e voar, sentindo as cores me colorindo,
Retomando os riscos, as linhas, trazendo a tona um suspiro de liberdade
Onde um papel humilde me contou o que eu estava, inconsciente, suprimindo
E me cantou a música que cravou em mim a essência da felicidade.
- Autor: A.M.B (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 7 de maio de 2020 12:44
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 26
Comentários3
Eu achei de uma sutileza incrível. E entendo perfeitamente o sentimento do "eu lírico" que despertou novamente para uma vontade de viver a partir do momento que sentiu que era necessário viver....lindíssimo minha amiga. Sinto falta de seus lindos textos...
Muito obrigada Gi:) Como sempre, você tem essa sensibilidade artística que toda vez desvenda o que estou tentando transmitir haha Incrível! Pode deixar que postarei assiduamente, ainda mais sabendo que uma poeta tão talentosa aprecia meu trabalho. 🙂
Como pode uma vida capaz de gerar outra vida, sentir desânimo e incapacidade, e que a vida gerada, "rasga o verbo" nos versos e traz sentido, revoluciona e torna vivaz a mesma vida!
Perfeito!
Quanta perspicácia Sônia! Muito obrigada pelo seu comentário maravilhoso 🙂
Introspectivo! fiz uma grande viagem na leitura !
Bravo! jovem escritora talentosa.
Abraços.
Muito obrigada Corassis! Me alegrou muito saber disso:)
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