Já não me reconheço
na argila de onde vim.
Nem na costela do verbo,
esse,
que me cravou
na carnadura dos lábios,
essa gramática que assombra.
Porém, é ela quem arrasto comigo
atada à língua. É ela
quem me açoita
e me assalta,
quem me afronta
e me abrasa
em fonemas
que me ruminam.
A quem entrego
este pássaro ferido?
E, com ele,
estas mãos sujas de letras?
Sou eu os silenciados,
carne
da própria carne,
osso
do próprio osso.
Por mais que eu sue,
e sangre,
e ardendo busque
nas entranhas dos teus verbos
(não o que
há de amargo, mas
o que há
de doce)
sou para ti, ó palavra,
como se não fosse.
- Autor: Rodrigues de Senna ( Offline)
- Publicado: 17 de julho de 2021 22:06
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 8
Comentários3
Poema e bonito e muito bem-feito.
Abraços ao poeta, Rodrigues de Senna!
Em tempo; seja bem-vindo, meu caro poeta.
Obrigado, amigo. Abraço.
Um belo poema sintagmatica e foneticamente bem feito. E com inspiração correta acompanhando!
Grato pela leitura e atenção. Abração.
Belo poema!
Obrigado, Edson. Feliz por ter gostado. Abraço.
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