Já não me reconheço
na argila de onde vim.
Nem na costela do verbo,
esse,
que me cravou
na carnadura dos lábios,
essa gramática que assombra.
Porém, é ela quem arrasto comigo
atada à língua. É ela
quem me açoita
e me assalta,
quem me afronta
e me abrasa
em fonemas
que me ruminam.
A quem entrego
este pássaro ferido?
E, com ele,
estas mãos sujas de letras?
Sou eu os silenciados,
carne
da própria carne,
osso
do próprio osso.
Por mais que eu sue,
e sangre,
e ardendo busque
nas entranhas dos teus verbos
(não o que
há de amargo, mas
o que há
de doce)
sou para ti, ó palavra,
como se não fosse.