morre-se um pouco a cada dia
por viver os enredos cotidianos
as picardias e engodos do tempo
enquanto lento passam os anos
entoa-se o santo ofício de morte
Rito cerimonial de cada dia
o dia vem e vai-se embora
e então faz-se tarde bem fria
e a noite devora o que luzia
morre-se um pouco a cada dia
quando o som da chuva lá fora
e o vento cantam uma elegia
cá dentro tudo então se cala
Na janela da mente só se espia
a escura tela de um dia triste
O dó da vida a que se expia
nada muda, nada vai embora
como se um dedo em riste
a frente de sí mesmo persiste
como se um relógio repetisse
e agora , e agora, e agora
morre-se um pouco a cada dia
Quando a mente é o desespero
O destempero do mau augúrio
de que nada parece dar certo
o embargo a todos os sonhos
Quando vem a luz d'aurora
o amargo acre de tolos bisonhos
pesadelos pelos quais se chora
Morre-se um pouco a cada dia
Amanhece-se com um lamento
e o ódio é a sua única liturgia
órbita a alma e o coração
no profundo lago da cruel apatia
a bílis jorra como única oração
deita ao mundo absorto
todo o fel que vem à língua
de quem à míngua de si vive
- Autor: Ovídio (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 13 de junho de 2021 21:08
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
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