edson ovidio

RÉQUIEM

morre-se um pouco a cada dia
por viver os enredos cotidianos 
as picardias e engodos do tempo
enquanto lento passam os anos 
entoa-se o santo ofício de morte
Rito cerimonial de cada dia
o  dia vem e vai-se embora
e então faz-se  tarde bem  fria
e a noite  devora o que luzia

morre-se um pouco a cada dia
quando o som da chuva lá fora
e o vento cantam  uma elegia 
cá dentro tudo então se cala
Na janela da mente só se espia
a escura tela de um dia triste
O dó da vida a que se expia 
nada muda, nada vai embora 
como se um dedo em riste
a frente de sí mesmo persiste 
como se um relógio repetisse
e agora , e agora, e agora

morre-se um pouco a cada dia
Quando a mente é o desespero
O destempero do mau augúrio
de que nada parece dar certo
o embargo a todos os  sonhos
Quando vem a luz d\'aurora 
o amargo acre de tolos bisonhos
pesadelos pelos quais se chora

Morre-se um pouco a cada dia
Amanhece-se  com um lamento
e o ódio é a sua única liturgia 
órbita a  alma e o coração
no profundo  lago da cruel apatia 
a bílis jorra como única oração
deita  ao mundo absorto
todo o fel que vem à língua 
de quem à míngua de si vive