NO
Sou andreense de coração,
Eu nasci em Santo André,
No Hospital Santo André,
Eu cresci em Santo André,
Eu amei em Santo André,
Eu amei Santo André,
Eu amo Santo André.
O provincianismo de Santo André corre em minhas veias.
Mas eu tenho saudades da Santo André
Da minha infância,
Sem asfalto na rua onde eu morava,
Adorava brincar na rua,
Adorava a rua;
Vez por outra passava um carro,
Enorme monstro fedido e barulhento,
Que abocanhava as brincadeiras
E as mastigava e as engolia,
Monstro escuro, taciturno e impaciente,
Não tinha cavalo puxando-o,
Nem cocheiro,
Nem chicote dando no lombo do cavalo,
Não parava para admirar as brincadeiras da molecada,
Sempre com pressa de fazer poeira e barulho,
Nunca sorria nem brincava,
Mas buzinava quando se achava
Incomodado pelas crianças,
Que só queriam ser crianças
E brincar na rua.
De dentro do carro partia um grito:
Sai da frente pirralhada dos infernos!
Trac, trac, trac, lá vinha o vendedor de biju,
Com sua matraca chamando a atenção da molecada
E de sua voracidade por coisas que não fossem comida,
Seguido pelos ou adiante dos vendedores
De pirulito de açúcar ou de quebra-queixo multicolorido,
Com seus tabuleiros pendurados no pescoço
Doces baratos e cruéis,
Eles queriam embolsar os poucos réis
Que a molecada carregava nos bolsos de suas calças curtas.
Fiuiii, fiuiii, era a vez do amolador de facas
Tentar vender para as mães um serviço perfeito,
Uma faca que cortaria a carne
Embrulhada em jornal velho
E os dedos.
Mas a molecada cresceu,
Casou-se e teve filhos
Que não brincaram na rua.
- Autor: Toio Varuzza (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 24 de abril de 2021 13:43
- Categoria: Conto
- Visualizações: 11
Comentários1
O poeta tem por Santo André ,
o que devoto a Pinheiros , na Vila Madalena onde nasci ,
Ah a infância!
bem parecidas .
parabéns , abraço
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