A Fábula e o Lúgubre em 4 partes.

Godhici Reverie

PARTE I

A MENINA AIROSA

***

Quem és esta graciosa menina?

Ela tem a pureza e singeleza da província interiorana

Me desperta a avidez, eu, um passante da metrópole

A viver no mais trivial dos lares, na planície harmoniosa

 

E de lá, lhe agraciar todos os dias com as mais lindas flores

Ao lado dela, olharia com mais nitidez a luz do sol e o verde dos campos

Aspiraria o perfume da natureza, lhe enxeria de carinhos e sutilezas

Ela tem um brilho a me aproximar mais de Deus, a reencontrar minha fé

 

Sua face me faz sonhar o mais simplório e deslumbrante dos devaneios

Seus cabelos me nutrem a intenção de acaricia-los suavemente

Eu nunca a vi, não sei como são seus movimentos, mas aquilo a saber

É que ao primeiro olhar seria alvejado por todo amor e paixão vivente

Sua voz deve ter a suavidade dos pássaros, aquele tom para dormir em paz

E acordar em aprazimento, bela menina do interior, como te desejo.

***

PARTE II

O LÚGUBRE

Céus... Petrificado, observo a cena enquanto meu encéfalo processa aquilo a meu luzeiro

Quem és este lugente e soturno homem? Que há de ser tal criatura?

Enroupado com o pretume das cavernas, tens o aroma da libitina

Sua face apresenta um feiume a dar-me calafrios, seu ar propaga o descaso

 

Tens uma singularidade genuína, porém responsável por afastar todos ao seu redor

Traz consigo corvos e morcegos, fixa seu olhar a mim, olhos frívolos e fúnebres

Retorna seu olhar para o nada, como se adentrasse nas profundezas do côncavo

Onde ali, se refugia da realidade a devorar-te, se deita em seu leito de languidez e desgosto

Pranteia todos seus belos e antagônicos sonhos frente a uma índole tão mórbida

Como deve ser cruciante estar no âmago deste homem lúgubre do abismo caliginoso

***

PARTE III

O ENCONTRO

Em um certo dia, o homem descrito no último verso, caminhava sob a campanha em meio ao diluvio, carregava nuvens negras a pintar o céu do mais horrendo e estarrecedor dos ambientes, este homem, já entregue ao seu espasmo de padecer internamente todos os dias, este homem, com sua introspectiva capacidade mental, ele avistou a menina airosa e ela reparou nele e não se afastou como faziam a maioria.

Por alguns segundos sobre aquele homem, do céu vinha uma torrente de descarrego daquelas nuvens a acompanharem, o horizonte modificou-se, surgiu o astro rei das estrelas, o páramo estava azulado com tons avermelhados.

 

E então, mergulhou em uma euforia desgovernada e desalentada, se entregou ao ludíbrio deste frenesi, fantasiou, ansiou, almejou, alimentou uma esperança onde sua consciente afogada já sabia e o alertava do final.

E eis o encerramento quando ousou se expor mais intensamente e mais uma vez, a veracidade, sua maior inimiga o agarrou e o despejou na fonte seca de seus desencantos, onde ali se reencontrou com seus tantos lamentos, sentiu-se atraiçoado, não pela donzela, mas por seu nada lúcido argúcia.

E após mais outra queda o impedindo da felicidade, ele chamou a morte, clamou, gritou, berrou, mas ela não veio, seria não mais que outra jornada de dores.

***

PARTE FINAL

A DESPEDIDA

Cara Donzela destes torrões de campo e natureza

Eu venho arfando em males perante a hediondeza

Mas fingindo externamente um fulgor tortuoso

Despedir-me de ti e retornar ao meu lar tenebroso

 

Pois é aqui iluminado se não apenas ao luar da lua

Guarnecido a profusas sombras e seres da noite

Onde me encontro na mais total equidade da psique

Neste vale taciturno testemunha de meus lamentos

Não te consinta em culpa ou meros desalentos

Pois no mais fundo de meu amago escarmentado

Timidamente cintila ao idear teus olhos e tua face

Esse semblante deveras distante diante de meu vale

 

Cerco meu remédio e consolo nos tragos da falácia

E acordo-me dia seguinte a pagar seu preço pesaroso

E noutra vez deitar-me no solo melancólico do marasmo

E questionar... O amor.... Quando por fim irei ama-lo?

 

 

 

 

  • Autor: Godhici Reverie (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de abril de 2021 15:33
  • Categoria: Gótico
  • Visualizações: 9


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