PARTE I
A MENINA AIROSA
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Quem és esta graciosa menina?
Ela tem a pureza e singeleza da província interiorana
Me desperta a avidez, eu, um passante da metrópole
A viver no mais trivial dos lares, na planície harmoniosa
E de lá, lhe agraciar todos os dias com as mais lindas flores
Ao lado dela, olharia com mais nitidez a luz do sol e o verde dos campos
Aspiraria o perfume da natureza, lhe enxeria de carinhos e sutilezas
Ela tem um brilho a me aproximar mais de Deus, a reencontrar minha fé
Sua face me faz sonhar o mais simplório e deslumbrante dos devaneios
Seus cabelos me nutrem a intenção de acaricia-los suavemente
Eu nunca a vi, não sei como são seus movimentos, mas aquilo a saber
É que ao primeiro olhar seria alvejado por todo amor e paixão vivente
Sua voz deve ter a suavidade dos pássaros, aquele tom para dormir em paz
E acordar em aprazimento, bela menina do interior, como te desejo.
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PARTE II
O LÚGUBRE
Céus... Petrificado, observo a cena enquanto meu encéfalo processa aquilo a meu luzeiro
Quem és este lugente e soturno homem? Que há de ser tal criatura?
Enroupado com o pretume das cavernas, tens o aroma da libitina
Sua face apresenta um feiume a dar-me calafrios, seu ar propaga o descaso
Tens uma singularidade genuína, porém responsável por afastar todos ao seu redor
Traz consigo corvos e morcegos, fixa seu olhar a mim, olhos frívolos e fúnebres
Retorna seu olhar para o nada, como se adentrasse nas profundezas do côncavo
Onde ali, se refugia da realidade a devorar-te, se deita em seu leito de languidez e desgosto
Pranteia todos seus belos e antagônicos sonhos frente a uma índole tão mórbida
Como deve ser cruciante estar no âmago deste homem lúgubre do abismo caliginoso
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PARTE III
O ENCONTRO
Em um certo dia, o homem descrito no último verso, caminhava sob a campanha em meio ao diluvio, carregava nuvens negras a pintar o céu do mais horrendo e estarrecedor dos ambientes, este homem, já entregue ao seu espasmo de padecer internamente todos os dias, este homem, com sua introspectiva capacidade mental, ele avistou a menina airosa e ela reparou nele e não se afastou como faziam a maioria.
Por alguns segundos sobre aquele homem, do céu vinha uma torrente de descarrego daquelas nuvens a acompanharem, o horizonte modificou-se, surgiu o astro rei das estrelas, o páramo estava azulado com tons avermelhados.
E então, mergulhou em uma euforia desgovernada e desalentada, se entregou ao ludíbrio deste frenesi, fantasiou, ansiou, almejou, alimentou uma esperança onde sua consciente afogada já sabia e o alertava do final.
E eis o encerramento quando ousou se expor mais intensamente e mais uma vez, a veracidade, sua maior inimiga o agarrou e o despejou na fonte seca de seus desencantos, onde ali se reencontrou com seus tantos lamentos, sentiu-se atraiçoado, não pela donzela, mas por seu nada lúcido argúcia.
E após mais outra queda o impedindo da felicidade, ele chamou a morte, clamou, gritou, berrou, mas ela não veio, seria não mais que outra jornada de dores.
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PARTE FINAL
A DESPEDIDA
Cara Donzela destes torrões de campo e natureza
Eu venho arfando em males perante a hediondeza
Mas fingindo externamente um fulgor tortuoso
Despedir-me de ti e retornar ao meu lar tenebroso
Pois é aqui iluminado se não apenas ao luar da lua
Guarnecido a profusas sombras e seres da noite
Onde me encontro na mais total equidade da psique
Neste vale taciturno testemunha de meus lamentos
Não te consinta em culpa ou meros desalentos
Pois no mais fundo de meu amago escarmentado
Timidamente cintila ao idear teus olhos e tua face
Esse semblante deveras distante diante de meu vale
Cerco meu remédio e consolo nos tragos da falácia
E acordo-me dia seguinte a pagar seu preço pesaroso
E noutra vez deitar-me no solo melancólico do marasmo
E questionar... O amor.... Quando por fim irei ama-lo?