Tales Vieira

PRIMEIRO CANTO DE UMA TRAGÉDIA SEM FIM

 

oh, herói bastardo!

admiro a intensidade dos teus passos
e da tua capacidade de retornar às trevas
como um cão raivoso recluso
que espera a tempestade passar
dentro de uma caverna onde há uma
vista do céu coberto pelas nuvens e iluminado
pelos relâmpagos
e as florestas desoladas pela ventania
derrubando as árvores e dificultando
o caminho dos malditos caçadores
presos em suas próprias armadilhas!

ai! clamo pelo herói bastardo
que presenciou a chegada da donzela
pálida com um vestido negro
e seios comprimidos
ela que surge segurando flores apodrecidas
sequestradas no cemitério onde ela mesma adormeceu
durante todos esses anos de miséria e fome!

ai! é a morte que se aproxima
bastou apenas um olhar para que eu me apaixonasse
por aquela maldita!

ai! quantas noites passei largado na floresta
silenciosa ou acometida por furiosas tempestades
onde os lobos das estepes foram as únicas companhias possíveis
e a morte solene e fria em busca da minha alma de poeta maldito e decadente!
clamo pela alegria de despertar com uma garrafa de vinho
pela metade ao meu lado
acompanhada por um copo
talvez uma empada deixada por um tolo qualquer,
e meus versos escritos nas paredes destas ruas imundas,

incessante instinto de peregrinação
rumo ao nada!
por que não me levas, donzela pálida?
deixe-me adormecer em seus macios seios!
possuindo o seu corpo esbelto e jovem!
não me condene a viver
pelo resto da eternidade à procura de você
oh, morte!

  • Autor: Tales Vieira (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 14 de Abril de 2021 20:48
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 27


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.