Sou tudo;
sou nada;
sou a insipiência absorvida;
sou a escravidão sendo castigada;
sou a verve declinada;
sou a estamina reprimida.
Sou vulcão adormecido;
sou o amor em ciúme;
sou espírito carcomido;
sou a rebeldia em queixume.
Sou a orgia se inflamando;
sou a cocaína sendo inalada;
sou o vício inspirando,
a sodomia depravada.
Sou a injustiça nauseabunda;
sou a moralidade a desfalecer;
sou a demagogia bem profunda;
sou a hipocrisia a recrudescer.
Sou detalhes;
sou requintes;
sou o minaz a romper;
sou o desconexo em acinte,
pondo o óbvio para morrer.
Sou o Sol da meia-noite;
sou a lua indo embora;
sou a filosofia fomentando açoites,
pervertendo as ideias ditas agora.
Sou juventude a envelhecer,
sentindo o fel , perdendo o lume;
sou o fim a antever,
a fragrância sem perfume.
Sou tudo;
sou nada;
sou pérola partida;
sou riqueza abandonada;
sou esperança demitida.
Sou anjo carente;
sou malefício empreendedor;
sou a inquisição penitente;
sou o vendaval destruidor.
Sou a certeza de lágrimas;
sou misteriosa maré;
sou a inquietude magna;
sou o firmamento em fé.
Sou orgasmos;
sou o pecado;
sou sentimentos a entorpecer;
sou a vida sem marasmos;
sou a metáfora do prazer.
Sou a força oprimida;
sou vontade a falecer;
sou a droga consumida;
sou o medo de vencer.
Sou o virtual edificado,
manipulando mentes fragilizadas;
sou o computador divinizado,
instigando servidão generalizada.
Sou a fantasia impura;
sou o cio em sobejo;
sou sexo em estrutura;
sou o amor sempre em desejo.
Sou miragem do deserto;
sou a gota no oceano;
sou inspiração do arquiteto;
sou o porvir em desengano.
Sou estrela cadente;
sou poesia lancinante;
sou a insciência inclemente;
sou o sofrimento torturante.
Sou o embate virulento;
sou a rocha fragmentada;
sou o pássaro luculento;
sou a liberdade enclausurada.
Sou mentiras;
sou verdades;
sou segredos de fraquezas;
sou um monge em simplicidade;
sou a marca da torpeza.
Sou a água em correnteza;
sou candura prostituída;
sou a hipocrisia em franqueza;
sou a desrazão enaltecida.
Sou o aborto ocultado;
sou a desonra em companhia;
sou o incesto generalizado;
sou o feto em arritmia.
Sou a bomba hedionda;
sou a inexatidão dos sentidos;
sou o ferimento com a sonda;
sou a fome dos desvalidos.
Sou a verdade que não existe;
sou a dissimulação perpetrada;
sou o dogma que insiste,
em mentiras reveladas.
Sou a vergonha do sucesso;
sou o errante navegador;
sou o culpado pelo progresso;
sou um humilde sonhador.
Sou o esperma ejaculado;
sou a magia em comunhão;
sou o espermatozoide fecundado;
sou o mutante em conspurcação.
Sou a energia enfraquecida;
sou o trovão cuspindo fogo;
sou a criança em estesia;
sou o destino em malogro.
Sou a transgressão dos costumes;
sou o poder transcendente;
sou a metafísica em negrume;
sou a irreflexão clarividente.
Sou o desalento da pobreza;
sou a anemia homicida;
sou um eremita em tristeza;
sou a pílula fratricida.
Sou a dialética excitante;
sou a retórica dissimulada;
sou a ignorância flagelante;
sou uma plêiade alcoolizada.
Sou a virgem desvirginada;
sou a paixão em ciúme;
sou a estátua despedaçada;
sou o casamento em azedume.
Sou a obra escatológica;
sou a política mercenária;
sou a imunidade da escória;
sou a traição incendiária.
Sou o estupro abominável,
fixando trauma e aflição;
sou a pedofilia execrável,
deixando almas em prostração.
Sou a chuva laureada;
sou a terra em alegria;
sou palavras interpretadas;
sou momentos de utopia.
Sou a serpente escamoteada,
assentando ódios bem profundos;
sou a raça eleita estigmatizada,
patrocinando mortes neste mundo.
Somos o que desejamos ser;
selvagens domesticados,
que matam a bel-prazer.
- Autor: Alberto dos Anjos Costa ( Offline)
- Publicado: 18 de março de 2021 11:58
- Comentário do autor sobre o poema: " A arte existe para que a verdade não nos destrua. "
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 4
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