Alberto dos Anjos Costa

O SOL DA MEIA-NOITE

Sou tudo;

sou nada;

sou a insipiência absorvida;

sou a escravidão sendo castigada;

sou a verve declinada;

sou a estamina reprimida.

 

Sou vulcão adormecido;

sou o amor em ciúme;

sou espírito carcomido;

sou a rebeldia em queixume.

 

Sou a orgia se inflamando;

sou a cocaína sendo inalada;

sou o vício inspirando,

a sodomia depravada.

 

Sou a injustiça nauseabunda;

sou a moralidade a desfalecer;

sou a demagogia bem profunda;

sou a hipocrisia a recrudescer.

 

Sou detalhes;

sou requintes;

sou o minaz a romper;

sou o desconexo em acinte,

pondo o óbvio para morrer.

 

Sou o Sol da meia-noite;

sou a lua indo embora;

sou a filosofia fomentando açoites,

pervertendo as ideias  ditas agora.

 

Sou juventude a envelhecer,

sentindo o fel , perdendo o lume;

sou o fim a antever,

a fragrância sem perfume.

 

Sou tudo;

sou nada;

sou pérola partida;

sou riqueza abandonada;

sou esperança demitida.

 

Sou anjo carente;

sou malefício empreendedor;

sou a inquisição penitente;

sou o vendaval destruidor.

 

Sou a certeza de lágrimas;

sou misteriosa maré;

sou a inquietude magna;

sou o firmamento em fé.

 

Sou orgasmos;

sou o pecado;

sou sentimentos a entorpecer;

sou a vida sem marasmos;

sou a metáfora do prazer.

 

Sou a força oprimida;

sou vontade a falecer;

sou a droga consumida;

sou o medo de vencer.

 

Sou o virtual edificado,

manipulando mentes fragilizadas;

sou o computador divinizado,

instigando servidão generalizada.

 

Sou a fantasia impura;

sou o cio em sobejo;

sou sexo em estrutura;

sou o amor sempre em desejo.

 

Sou miragem do deserto;

sou a gota no oceano;

sou inspiração do arquiteto;

sou o porvir em desengano.

 

Sou estrela cadente;

sou poesia lancinante;

sou a insciência inclemente;

sou o sofrimento torturante.

 

Sou o embate virulento;

sou a rocha fragmentada;

sou o pássaro luculento;

sou a liberdade enclausurada.

 

Sou mentiras;

sou verdades;

sou segredos de fraquezas;

sou um monge em simplicidade;

sou a marca da torpeza.

 

Sou a água em correnteza;

sou candura prostituída;

sou a hipocrisia em franqueza;

sou a desrazão enaltecida.

 

Sou o aborto ocultado;

sou a desonra em companhia;

sou o incesto generalizado;

sou o feto em arritmia.

 

Sou a bomba hedionda;

sou a inexatidão dos sentidos;

sou o ferimento com a sonda;

sou a fome dos desvalidos.

 

Sou a verdade que não existe;

sou a dissimulação perpetrada;

sou o dogma que insiste,

em mentiras reveladas.

 

Sou a vergonha do sucesso;

sou o errante navegador;

sou o culpado pelo progresso;

sou um humilde sonhador.

 

Sou o esperma ejaculado;

sou a magia em comunhão;

sou o espermatozoide fecundado;

sou o mutante em conspurcação.

 

Sou a energia enfraquecida;

sou o trovão cuspindo fogo;

sou a criança em estesia;

sou o destino em malogro.

 

Sou a transgressão dos costumes;

sou o poder transcendente;

sou a metafísica em negrume;

sou a irreflexão clarividente.

 

Sou o desalento da pobreza;

sou a anemia homicida;

sou um eremita em tristeza;

sou a pílula fratricida.

 

Sou a dialética excitante;

sou a retórica dissimulada;

sou a ignorância flagelante;

sou uma plêiade alcoolizada.

 

Sou a virgem desvirginada;

sou a paixão em ciúme;

sou a estátua despedaçada;

sou o casamento em azedume.

 

Sou a obra escatológica;

sou a política mercenária;

sou a imunidade da escória;

sou a traição incendiária.

 

Sou o estupro abominável,

fixando trauma e aflição;

sou a pedofilia execrável,

deixando almas em prostração.

 

Sou a chuva laureada;

sou a terra em alegria;

sou palavras interpretadas;

sou momentos de utopia.

 

Sou a serpente escamoteada,

assentando ódios bem profundos;

sou a raça eleita estigmatizada,

patrocinando mortes neste mundo.

 

Somos o que desejamos ser;

selvagens domesticados,

que matam a bel-prazer.