NO
Nasci nos alagados.
Na cidade de Salvador.
Uma vida Severina.
Eu confesso pro Doutor.
Bem cedo vi a miséria.
Pobre povo sofredor.
Eu saí dos alagados.
Ele em mim sempre ficou.
Marcado perto do peito.
Quase meu coração vazou.
Numa queda lá das pontes.
Sobrevivi meu senhor.
Moleque soltei pipa.
Brinquei, cair e levantei.
Tudo isso me engrandeceu.
Vivi no lixo como rei.
Aquilo que não lhe mata,
fortalecece, disso eu sei.
Irmãos tive aos montes.
Velho Gió era retado.
Ju, Gerson, Vera, Vaninho.
Paulo cedo retirado.
Depois mais três com outra.
Mamãe comeu um dobrado.
Os amigos de infância.
Tenho aqui no coração
Nau, Maria, Reginho,
Malaca, Mi, Dó, João,
Edi, Badalo, Marcelo,
Zeba, Neide, Abilde, Babão.
Eu não vou listar todos.
Ou culpar o tal alemão.
Não é por esquecimento.
É que tenho de montão.
desculpas eu vou pedi.
Caso não cite o irmão.
Meu apelido era Galo.
Ou ceguinho vou confessar.
Juntou os dois: Galo Cego,
o povo passou a me chamar.
Eu nunca me aborreci.
Porque iria me molestar.
Muito cedo trabalhei.
Na feira alegre vendia:
Chuchu, bucha e manga rosa
Só depois me divertia.
Não era por imposição.
Apenas por serventia.
Fazia artesanato.
Colar de concha e cordão.
E outros acessórios.
Com minha própria mão.
Vendia no Mercado,
Bem perto do Taboão
Eu defendia uns cobres.
Para urgente precisão:
cinema, sorvete, arraia,
doces, gudes e pião.
Dava algum pra mainha.
Tudo com satisfação.
Claro também estudava.
Sonhava ser bacharel.
Adorava a leitura.
De gibi, aventura e cordel.
Transferia meus sonhos,
para uma folha de papel.
Pensei escrever um livro.
A pro Rita declarou:
"Leia uma biblioteca,
se quiser ser escritor".
Ainda estou tentando.
Um dia eu sei que vou.
De Jessé nasceu a vara.
Fala canção bem antiga.
A minha cresceu cedo.
Uma missão atrevida.
De povoar o mundo,
com gente divertida.
Para um mister tão ousado,
tive uma boa parceira.
Maravilhosa Silvia.
Uma mulher guerreira.
Feliz e bela união.
Casal sem eira nem beira.
Como pai, era criança.
Moleque sempre brincava.
Adorava vê-los rir.
História eu inventava.
Fazia tanta loucura.
Dançava, também cantava.
Meu filho disse inocente:
"Pai você é um palhaço".
Seu avô enfureceu-se.
Mas pai é o que faço.
Para alegrar meus filhos,
não uso régua e compasso.
O meu primeiro filho.
É um inteligente varão.
Daqueles que dão orgulho.
Enche o pai de satisfação.
Dei-lhe nome de poeta.
Vinícius minha paixão.
Logo veio a Paulinha.
Uma Jornalista de valor.
Já foi até pro estrangeiro.
Caribe, São Salvador.
Seu nome uma homenagem,
Ao irmão que Deus levou.
A doce Poliana.
É a minha caçulinha.
O nome tirei de um livro
Em criança era a pestinha.
Enveredou pela moda.
E outros vôos, danadinha.
Logrei meu objetivo
Eu me tornei bacharel.
Formei em economia.
Tenho canudo de papel.
Mas meu maior orgulho,
é poetizar em cordel.
Sou fiel aquariano.
Portanto sigo a sonhar.
Em talvez mudar o mundo.
Ver a vida melhorar.
Dessa gente sofredora.
Que insiste e só faz rezar.
Faço hoje do meu cordel,
arma e forma de protesto.
Uso minha poesia,
como meu manifesto.
Falar das malvadezas,
e de tudo que detesto.
Mas também canto amores,
sonhos, desejos e ilusão.
Uso a pena me deleito.
Poetizar minha paixão.
Transfiro para o papel,
Dor, amor, vida e emoção.
Sou excelente pescador.
Mentiroso com certeza.
Na praia da Boca do Rio.
Vivo junto a realeza.
Du, Janu também Pequeno.
Pobre vida com nobreza.
Levo a vida devagar
Claro tive atribulação.
Mas encaro com leveza.
Viver com preocupação,
com o ontem e o amanhã.
Vivo agora a diversão.
Meu remédio é o sorrir.
Viver e cantar e cantar.
Gosto muito de piadas.
E a todos muito alegrar.
Quando chega a tristeza.
Abraço e dou chega pra lá.
Defeitos eu tenho muitos.
Mas não cabe a mim falar.
Deixo a cabo dos outros.
Se quiserem relatar.
Pra mim peço não fale,
Quem sabe vou contestar.
Sonhos tive, tenho e terei.
Filhos, eu já tenho três.
Escrever um bom livro.
A árvore eu já plantei.
Deixar um bom legado.
Ser inimigo do Rei.
Tenho filhos emprestados.
Poli trouxe um bocado.
O Fábio e Mariana,
deixaram belo legado.
Já tenho quatro netos.
Quero o número dobrado.
Meus netos são sementes.
Nico, Ben, Tutu e Gabriel.
Tem também Sky e Alfredo,
Pintados com um pincel.
São galhos da mesma árvore.
Que eternizo nesse cordel.
Assim conto essa saga.
Desse pobre rico plebeu.
Que vive com alegria,
De dia e se anoiteceu.
Faço hoje 64 bons anos,
relatei só o que aconteceu.
Os próximos 60 anos.
Vivo vou cordelizar.
Pretendo viver muito.
Ver meus netos procriar.
Gente que mude o mundo.
O povo voltar a cantar.
- Autor: Jessé Ojuara (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 6 de fevereiro de 2021 08:56
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 103
Comentários2
Feliz aniversário!!!
Parabéns pela vida, pela poesia, pelo cordel, pelas ideias, pela árvore plantada, pelas sementes semeadas.
Agora um conselho meu:
Escreva o livro seu.
Tenha um lindo dia.
grande abraço
Obrigado poetiza.
O livro está nos planos e provavelmente será uma coletânea de poesias.
Gratidão
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.