Victor Severo

Um pontinho perdido na estrada.

No final são as coisas mais simples que me tocam o coração.

Um beijo molhado, um abraço suado, minha mão, tua mão.

Um espreguiçar indolente, um sorriso indecente.

O prazer conjurado, aos gritos ou cochichado, quase uma contravenção.

Teu colo que palpita e ferve, quase queimando em febre.

O deslizar pelas tuas curvas, mergulho vertiginoso, banho-me em tua seiva,

adentro em tua selva. Me perco no prazer, isso é que é viver.

 

No começo, parecia absurdo, quase cego, manco, magro e meio surdo, me sentia cansado, tonto e desprezado.

A solidão atroz, o gemido feroz, que só era de dor, na terra da solidão, em sua triste e fria imensidão, tudo havia, só não existia amor.

Eu vivia sozinho, perdido, sem carinho, sem sossego e sem apego, quão vazio era meu viver.

Era um homem brutalizado, empedernido, tinha o aspecto de um galho retorcido, era triste, dava pena de se ver.

Mas um dia, como que surgida do nada, um pontinho perdido na estrada, veio em minha direção caminhando, no começo eu nem dei muita importância, logo na minha pobre instância, e você se aproximando, chegando...

E chegou quase abruptamente, arando a terra seca, espalhando sementes, colhendo na hora certa, cultura farta em terra fértil, que antes julguei deserta, preparando teu ninho, me julgou, fez de mim condenado, prisioneiro, culpado, engaiolado feito passarinho. Em rica cela ornamentada de onírico gozo, celestial prazer. Nunca mais quero ser livre em solitária tristeza, para sempre cativo de tua pura realeza, Vivo a te exaltar, isso é que é viver.

No meio de tudo isso, de todas essas coisas que parecem simplórias, não luto por títulos imerecidos, por patentes, fama ou glórias.

Das agruras que antes me atormentavam, nada sobrou, das dúvidas que com frequência me visitavam, pouco restou.

A ciência tão evoluída para quem por ela pode pagar, ainda não descobriu a cura para esse meu mal, nada mais triste afinal. Mas, o pouco que me foi ofertado, que pode parecer pouco para um desavisado, mas, que para mim é um tesouro de infinito valor, esse achado por tantos desprezado, que matam para ter o muito, esquecendo os pequenos e mais importantes bocados, essa panaceia é o teu amor.

Que é para mim a entrada em uma outra dimensão, onde toda a dor jaz sepultada, e foi com aquele distante pontinho na estrada que eu finalmente encontrei minha salvação. Portanto, agora que esse reino está selado, seguro e protegido. Você aqui deitada ao meu lado, eu nem me lembro mais o que significa sofrer. E prestes a dormir contigo aconchegado, sorrio ao refletir, tranquilo e sossegado, vaidoso em consentir, isso é que é viver!

  • Autor: Victor Severo (Offline Offline)
  • Publicado: 2 de Fevereiro de 2021 11:24
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8

Comentários2

  • Lara Machado

    Esse poema retrata o medo de rejeição sofrido por quem ama. Acho que todo(a) apaixonado(a) já duvidou da reciprocidade de seu amor. É tão bom quando toda insegurança se mostra irreal e se percebe toda retribuição de sentimentos.

    • Victor Severo

      Muito grato pelo comentário cara Lara.

    • Cecilia

      Gostei muito, Victor. Você se exprime muito bem, com correção e elegância, conta uma transformação do triste para o bem viver que nos alegra e entusiasma.

      • Victor Severo

        Que bom que tenhas gostado cara Cecília. Um abraço.



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