NO
DAMNATIO MEMORIAE
Chico Lino
(Morte Absoluta
de Manuel Bandeira)
Condenação da memória
Pena da Roma Antiga
Aplicada a traidores
Hostis à pátria
De quem o nome era retirado
Dos documentos e monumentos
Destruídas
Todas as imagens
Desse condenado
Remetiam
Sua memória
Ao esquecimento
Da história
O que não aconteceu pois lembramos
Deveria haver alguma forma de matar
Matar a memória
Completamente
Matar sem deixar quaisquer
Vestígios de lembrança
Dos crimes perpetrados
Da podridrão de infelizes dias
Banhados nas lágrimas
Nascidas menos da dor
Do que da crueza do trato ao povo
Matar
Sem deixar porventura uma memória errante
A caminho do inferno
Mas que inferno satisfaria
A ideia desse inferno?
Matar sem deixar uma palavra
Uma foto, som da voz, uma sombra
Em nenhuma rede social
Suas vontades excretadas
Em nenhum registro oficial
Matar tão completamente
Que em dia algum
Ninguém teria motivos
De perguntar: "Quem foi?..."
Quando a realidade em sua crueza
Asfixia a poesia
Matar mais completamente ainda
Sem deixar sequer este inútil poema
- Autor: Chico Lino (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 24 de janeiro de 2021 00:23
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 130
Comentários3
Profundo! Apagar... Abraços,
Isso, Ema... "Danação da Memória", seria um dos sentidos de Morte Absoluta de que fala o Bardo Manuel Bandeira... tento fazer conexões entre o Antigo Direito Romano, um poema do século passado e a nossa triste e atual realidade... Abração...
Parabéns, Chico Lino, pelo engenho e pela arte.
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