Olhos tristes

Adriele Bernardi

Olhos tristes

 

É doloroso pensar nas facas encravadas no âmago do meu prazer,
enquanto os olhos já se encontram escassos, sem derramar nada.
Apenas a tristeza se abate sobre eles, como um espelho cristalino,
se fui eu que o sequei mereço então carregar a culpa em minhas costas cansadas.
É triste pensar que as flores perderam o cheiro e os dias perderam a cor,
Tudo se encaixa como uma engrenagem de uma máquina robótica-automática
muito apático, repetitivo, onde os dias se copiam e as noites se repetem.

 

Nesses cômodos vazios eu recebo minha própria definição, infelizmente.
Pode ser que haja esperança, uma fagulha de vida que se perdeu nas minhas lamúrias,
mesmo sabendo que toda essa aura negativa me afunda como areia movediça,
Não consigo sair do lugar, sem válvula de escape, sem saída, afogando, afundando.
A cada rumar do Sol arranco um pedaço da minha alma e atiro ao vento,
Talvez, na companhia dos pardais ela seja mais feliz, voando livre, sem esse cárcere.

 

Meus olhos tristes perderam o brilho de outrora, em que minhas asas ainda pairavam
Sob um céu plácido, colorido com as cores da aurora, com cheiro de sonhos e sabor de vida.
Ali minhas lágrimas eram passageiras e adubo de força e sabedoria,
ao passo que meus pés falhavam, mas nunca deixavam de sentir o chão...
Houve um tempo, sim, em que a luta era sinônimo de aprender, de recomeçar, de viver,
Contudo, acho que manchei as vestes da verdade com a impureza do cansaço e da dor.

 

Mas, está tudo bem. Porque ali na estante encontro meu refúgio de palavras,
onde choro no compasso das letras e me deleito com o ritmo da linguagem e do sentido
Ali eu sou alguém e não estou sozinha, pois não há solidão na infinitude da escrita
Encontro um propósito à vida, onde sou apoiada, amada, envolvida, me sinto alguém.
No furacão das letras eu sou poeta, maestra, pintora, rumando minha satisfação.

 

Mesmo com olhos tristes ainda sou capaz de chorar de gratidão, efetivamente.
Ainda me arrepio e possuo mãos capazes de moldar um universo inteiro,
onde, no tumulto deste insensato mundo enxergo minha amargura na lente da beleza.
E, se chorando sou capaz de sorrir, é porque há em mim muito mais que furos e espinhos.
Ainda sou alguém...
e sendo alguém posso descansar meus olhos tristes que aprenderam a rir.

  • Autor: A.M.B (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de abril de 2020 17:40
  • Comentário do autor sobre o poema: Essa poesia é muito importante para mim, pois reflete tudo o que sinto. Estou me abrindo realmente. Pode soar triste, mas todos nós temos cicatrizes com histórias e feridas que ainda não cicatrizaram. Precisamos sentir a dor, pois através dela renasce a beleza.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 31
Comentários +

Comentários2

  • Nelson de Medeiros

    Muito bom todo o enredo.
    Parabens

    • Adriele Bernardi

      Muito obrigada Nelson... você é um poeta e tanto, q honra! 🙂

    • Gislaine Oliveira

      É...triste, mas toda tristeza deve ser esgotada para que novas e boas experiências possam ser vividas. É uma catarse. Assim eu definiria. Totalmente rico de sentimento. Parabéns. É perfeito.

      • Adriele Bernardi

        Como sempre muito gentil. Muito obrigada Gi. 🙂



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