Arrastados pela força de impiedosos ditames.
Sem amparo, sem guarida, a não ser da esperança.
A fugir inutilmente da bandeira dos infames.
Na embriaguez que já não embala nossa dança.
Já não sei se vale a pena tal reclame.
Olhando para os lados, assustados feitos crianças.
Sozinho estamos, ninguém mais escuta o conclame.
Só resiste a miséria onde nunca houve pujança.
Escravizados pelos nobres brancos macacos.
Fitando o céu carmesim invadido pela peste.
Crianças morrem, lábios pálidos, olhos opacos.
Anjos encardidos, sementes do vasto agreste.
Mulheres e homens como eu tombam em cacos.
Amofinados, cansados, mortos vivos, sempre inertes.
Aprisionados, agrilhoados em miseráveis barracos.
Dormimos pedindo, clamando que a morte nos liberte.
Submetidos eternamente a humilhante caridade.
Que sempre nos rouba o tudo para migalhas devolver.
E exige que o escravo se porte com humildade.
Para que o ciclo se repita, em odioso proceder.
Exigem que nos portemos com servil sobriedade.
Pois nossa propriedade resume-se a sobreviver.
Assim vão nos impingindo suas tolas veleidades.
Até que a morte os carregue e no fogo os faça arder.
E quanto mais passa o tempo, mas perde força o lamento.
Carcomidos pela traça de nossa própria desgraça.
Quanto mais o tempo encurta, mais aumenta o sofrimento.
O agourento pavor que a toda dor ultrapassa.
O pestilento odor que mapeia o firmamento.
O desprezível clamor que se perde qual fumaça.
Alguém finge escutar, nada além de fingimento.
Em breve estarás sozinho, tu e tua dor, podre carcaça.
- Autor: Victor Severo ( Offline)
- Publicado: 5 de janeiro de 2021 13:53
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 14
Comentários2
Reflexivo e Terrivelmente triste poesia, mas de uma realidade Universal ! Orai e Vigiai! Paz e Bem Poeta!
Grato poeta, que a luz esteja contigo sempre.
Bonito e triste, mas necessário.
Este lamento poetico, assim como o clássico Navios Negreiros, tem quer ecoado aos quatro cantos do mundo. Expor as atrocidades causada pelos "nobres brancos desumanos". Fiz uma alteraçãozinha para não chatear os macacos.
Abraços ao grande poeta, Victor Severo.
Abraços poeta e muito obrigado por ter gostado.
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