Arrastados pela força de impiedosos ditames.
Sem amparo, sem guarida, a não ser da esperança.
A fugir inutilmente da bandeira dos infames.
Na embriaguez que já não embala nossa dança.
Já não sei se vale a pena tal reclame.
Olhando para os lados, assustados feitos crianças.
Sozinho estamos, ninguém mais escuta o conclame.
Só resiste a miséria onde nunca houve pujança.
Escravizados pelos nobres brancos macacos.
Fitando o céu carmesim invadido pela peste.
Crianças morrem, lábios pálidos, olhos opacos.
Anjos encardidos, sementes do vasto agreste.
Mulheres e homens como eu tombam em cacos.
Amofinados, cansados, mortos vivos, sempre inertes.
Aprisionados, agrilhoados em miseráveis barracos.
Dormimos pedindo, clamando que a morte nos liberte.
Submetidos eternamente a humilhante caridade.
Que sempre nos rouba o tudo para migalhas devolver.
E exige que o escravo se porte com humildade.
Para que o ciclo se repita, em odioso proceder.
Exigem que nos portemos com servil sobriedade.
Pois nossa propriedade resume-se a sobreviver.
Assim vão nos impingindo suas tolas veleidades.
Até que a morte os carregue e no fogo os faça arder.
E quanto mais passa o tempo, mas perde força o lamento.
Carcomidos pela traça de nossa própria desgraça.
Quanto mais o tempo encurta, mais aumenta o sofrimento.
O agourento pavor que a toda dor ultrapassa.
O pestilento odor que mapeia o firmamento.
O desprezível clamor que se perde qual fumaça.
Alguém finge escutar, nada além de fingimento.
Em breve estarás sozinho, tu e tua dor, podre carcaça.