Pedro Trajano de Araujo

2020 O ano que não sonhamos

"Este ano eu quero paz no meu coração..."

E assim ao som dessa canção

Embalamos a chegada de dois mil e vinte

Abraços, beijos e apertos de mão

O céu iluminado por luzes de rojão

Vimos o relógio dos homens

Implacavelmente mudar o ponteiro

Sem presa, sem pular nenhum segundo

Máquina precisa de engenheiro

Mais um ano a nos entregar

Nos quatro cantos deste mundo

 

Tempo propício para sonhar

Novas promessas

Velhas vontades

Amores para se vivenciar

Juras de fidelidade diante do altar

Um emprego novo alcançar

Finalmente, ganhar mais dinheiro

Carnaval nas praias do Rio de Janeiro

Menos trabalho e mais passeio

Um bebê para completar a família

Planos para um ano inteiro

 

E dois mil e vinte parecia começar

Talvez o outro lado do mundo já temia

Que o vírus poderia virar uma pandemia

Mas por aqui quase tudo calmaria

Agitação só no esperado carnaval

Com muitos gringos a nos visitar

Samba, cerveja e alegria

Uma nação embebedada na euforia

Suspender a “festa do povo” que político ousaria?

Depois fecha-se tudo e que se dane a economia

Lockdown como solução para a grande maioria

 

Revelou-se muita verdade

No dito popular que afirma:

Que por aqui o ano só começa

Quando o carnaval termina...

Mas este ano não começou

Descobrimos que Raul Seixas

Certa vez se meteu a profeta

Quando para o mundo cantou

“O dia em que a terra parou”

Mais acertado estaria se dissesse:

O ano que o mundo parou.

 

Dois mil e vinte

O ano que não sonhamos

Em que vimos nossos planos

Ficarem cada vez mais distantes

Descobrimos que o vírus tem poder

Para fazer um pais inteiro se ajoelhar

Só de longe poder chorar

Enterrando os mortos sem poder velar

Redescobrimos que somos vidas frágeis

Não temos as rédeas do nosso próprio destino

Foi tudo falácia do marketing e ficamos convencidos

 

No horizonte despontou uma esperança

Começamos então a acreditar

Na chegada de uma solução

Mas sempre tem a política

Que transforma tudo em briga

Pasmem! Desta vez a intriga

É sobre qual é a melhor vacina

A dos outros ou a da China?

Na falta de líderes qualquer um pode palpitar

Onde todos sabem quase tudo

Somos como cães cegos guiados por um surdo

 

Estranha sensação

De um ano que desejamos

Que logo acabe

Mas desta vez temos a percepção

De que sabemos o que esperar

Do tamanho do desafio a enfrentar

O importante é que não deixemos de sonhar

E dois mil e vinte e um vem aí

Somos do Brasil povo guerreiro

Sofrido, explorado, mas gente de fé

Que outra nação declara que Deus é brasileiro?

 

Pedro Trajano de Araujo

19 dezembro 2020

Penápolis SP

  • Autor: Trajano (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 20 de Dezembro de 2020 15:25
  • Comentário do autor sobre o poema: Comecei a escrever este poema na última terça feira (15/12) no posto de saúde aqui da minha cidade, enquanto esperava para fazer um exame de covid-19. Graças a Deus deu negativo. Mas tudo isso me fez pensar sobre este ano de 2020.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 28

Comentários2

  • Shmuel

    Belo texto amigo poeta.
    Abraços,

  • Anna Macedo

    Verdadeiramente perfeito e real situação....parabéns



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.