Marcos Antônio Lima

Lamentos de um rio

 

  • Nasci pequenino e feito menino fui feliz
  • Sou filho amoroso da Serra da Canastra
  • Fiz-me rio, fiz-me cachoeira a inundar as matas
  • A escorrer por fendas de força eletromotriz.

 

  • Até a chegada desse tal de progresso
  • Que me represou a juventude
  • Em nome do seu louco possesso
  • Deformando-me os traços tirando-me a virtude

 

  • Hoje estou velho, triste e degradado
  • Mas fui jovem e vi muita gente a nadar
  • Por pedras colossais fui represado
  • E mesmo assim água doce é o que sei dar

 

  • Essa água é meu sangue, o meu vigor
  • A saciar a sede da fera chamada homem
  • Que me maltrata e as minhas forças consomem
  • Esse sim, é o meu mais cruel predador.

 

  • Oi! Eu sou o Velho Rio São Francisco
  • Lembra que te banhastes nas minhas águas?
  • E sedento bebestes da minha alma?

 

  • Não fora o bastante ter-te saciado a sede?
  • Ter-te servido os meus melhores peixes?
  • Aliviando a tua fome? Por quer me consome?

 

  • Oh, seres desumanos!
  • Que mal te fiz eu para ser maltratado assim?
  • Para que eu reviva, peço-te: afasta-te de mim!
  • Autor: MacPot (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de Março de 2020 12:08
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 33


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