É mais um dia
mais uma dose de incertezas
mais um dia que assemelha-se aos outros dias
Mais uma vítima do século XXI, que nasce e morre
e, quando morre, todos lamentam-se na TV
É mais um dia
outro dia que acordo tarde e estressado
Outro dia, nem quente, nem frio
um dia que assemelha-se aos outros dias
Outro café amargo com sanduíche
Outras duas horas e meia jogadas fora
Mais uma prova de respiração
ao subir pela rua
Mais uma monótona espera pelo Linha 8
Outra vez que me sinto um covarde por não ceder lugar
e reflito
É mais um dia
que assemelha-se aos outros dias
Outros trinta minutos, que aprecio
- com dor no pescoço, desajeitado -
penso se vale a pena
pensar naqueles cabelos curtos, escuros e lisos
como as páginas antigas de Brejo das Almas
lembrar daquele sofisticado - e um tanto delicado -
jeito de andar
de encarar-me por alguns nanossegundos
de conversar educadamente
explorando ao máximo sua voz
que fascina-me
que leva-me ao passado
onde a utopia, apreciada por dois inconsequêntes
- porém amáves -
ainda fazia-se presente em meus lapsos surrealistas
É mais um dia, mais um dia
"O que acontece no seu dia?"
E novamente o dilema: ir, ou não, ao banheiro?
Fui.
Mais um dia, mais um dia
que assemelha-se aos outros dias
- é um dia mais tenso, porém -
Eu nunca sei que horas são
Só sei que geralmente ela passa no corredor
por volta das quatro da tarde
Mas não careço de amor
e sim de convicção
É mais um dia em que o sol me prega uma peça
Não compactuo com aquele agasalho
Todavia, hoje fui mais esperto
venci a incerteza
Mas foi apenas hoje, neste dia
Essa hora, a sala não costuma ficar vazia
Sempre tem gente
e eu adoraria vê-los gemer de dor
e implorar por suas levianas, superficiais e irrelevantes passagens
- acho que perdi a linha de raciocínio -
Mas nada importa
É só mais um dia
um dia que assemelha-se a outros dias
Só mais alguns pedaços de eternidade
e o infinito já, já vem transportar-nos
É tão ruim lembrar do após
que nem cogito transcrevê-lo
Não me acanho
pois sei que posso fazê-lo outro dia
Afinal, é só mais um dia
um dia que assemelha-se a outros dias
que assemelha-se a outras vidas
que me faz lembrar daquela bendita pinta
- tão linda -
Pena que é só outra pessoa
que passará por desconhecida...
- Autor: Junior B ( Offline)
- Publicado: 5 de Dezembro de 2020 21:08
- Comentário do autor sobre o poema: Um de meus primeiros poemas da época do colegial. Encontrei meu caderno antigo em que escrevia alguns versos avulsos, sendo que "365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos" foi a primeira poesia completa a qual me dediquei a terminar. Decidi compartilhar aqui, para alguém, que não seja eu, ler também. Aborda meu cotidiano monótono e uma paixão platônica que tive, dentre tantas, no colégio. Obrigado por ler!
- Categoria: Amor
- Visualizações: 12
Comentários2
Poema muito bom, explorando e retratando a monotonia do cotidiano, porém realizando interessante texto.
Abraço, poeta
Muitíssimo obrigado, senhor Hébron. Abraço para você também.
Poema lindo. É incrível como as pessoas deixam a rotina sucumbir o prazer de viver
Obrigado, senhorita Lara. Realmente, às vezes nos perdemos por um tempo, às vezes tudo fica chato e a rotina nos amassa. Mas a vida continua sendo bela.
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