Henrique Amaral

Minha Doçura

Minha Doçura (*)


Era só eu e minhas agruras, em minhas noites escuras.
Os amores: somente rasuras. As amizades: imaturas.
Alimentando vontades impuras, vivia eu de desventuras.
Amargo como angostura, precisando urgente de cura.
Viajei para outra ventura, e nessa distante prefeitura.
apesar da conjuntura, lá encontrei uma senhora,
de tamanha compostura, a quem revelei minha procura.
Não sei bem porque este cabeça-dura, fez àquela senhora a sua jura.
Acreditar que em minha vida futura, ainda teria alguém de verdade,
amor que perdura.
E como se já estivesse nas escrituras, laços que ainda no céu se costura,
Uma voz amiga me disse com brandura, sobre sua beleza, sobre sua lisura.
E no ímpeto de um contato, deu-se então a ruptura.
No céu, aquele que habita nas alturas desfez nossa quadratura.
Esse divino trabalho de dobradura nos fez acreditar em nossa procura
E em meus sonhos pude ver sua aura pura.
Conversas à distância, sem censura, com uma personagem de literatura.
Tentando alcançar uma flor de uma distante floricultura.
Desde suas primeiras palavras, todas cheias de doçura, logo fiz minha leitura.
Falava ela de tudo: meditação, florais e acupuntura,
sobre decoração, sobre arquitetura; e eu, só ouvia: doçura.
Essa fruta doce madura, menina de tanta candura e senhora esbanjando bravura,
derreteu minha armadura.
E nossos corações cheios de fraturas, foram retirando as ataduras.
Então disse eu algo àquela bela gravura,
Não sei se foi à altura, o que vem do peito a gente não mensura.
O fato é que essa valiosa criatura, veio então à minha procura.
Ao vê-la no aeroporto, em pé, em sua exuberante postura,
meu semblante se transfigura.
Uma menina-senhora de exuberantes curvaturas, de Rodin, uma escultura.
um olhar cheio de candura, mas que, ao mesmo tempo, me trouxe quentura.
A levei para jantar, em seu vestido púrpura.
E lá fomos nós para nossa travessura, eu e aquela linda figura
Procedentes de diferentes culturas, mas ambos em busca de porventura.
Pus meu braço em sua cintura e pude vê-la ainda insegura,
como uma jovem em sua formatura, senti então subir sua temperatura.
Educada, mas sem frescura, essa doce criatura, também abalou minha estrutura.
Não sei se já não tínhamos certeza, mas era a primeira noite de nossa vida vindoura,
e naquela mesma noite, já no apartamento, uma última taça do vinho que as verdades depura.
Diante daquela pintura, meu olhar então a perfura.
Logo tomei decisão segura, senti sua pele, sua textura.
Fiz um só corpo de nossa mistura,
dizendo em seu ouvido o que a paixão sussurra,
ouvindo de sua boca o que o prazer murmura.
Foram dias e noites de loucura.
Corpos misturados em lençóis de brancura,
que se tornaram uma única figura
Logo foi então a minha vez de viajar para aquela lonjura,
e me vi dirigindo por aquela selvagem planura.
Em meio a uma natureza de fartura, ao meu lado na viatura,

um rosto angelical numa iluminura, só lhe faltando a moldura.
E de repente, a cada semana que passava, ficar longe já era uma tortura.
Essa mulher loura adoçou minha amargura.
Isso é meu coração que me assegura.
Hoje ela é minha ternura e, também, minha gostosura.
Em palavras mais antigas: uma flor de formosura
Fiz então minha última loucura:
Pus do meu pai as abotoaduras,
coloquei meu sobrenome em sua assinatura,
e o padre gordinho fez a sagrada benzedura.
Agora vivemos todos os dias essa tardia boaventura.
Essa flor que em meu jardim fulgura, cuja pele no sol se doura,
em sua beleza ainda mais apura, faz do seu sorriso minha eterna captura.
E a vida então se reinaugura, um novo tempo de semeadura.
Tocamos juntos sem partitura.
Não quero mais morrer, ela é minha manjedoura
e todos os dias o meu viver restaura,
e todas as noites é seu fio prateado de luz que aqui me segura.
Deus me deu essa graça, essa sagrada judicatura.
LFZ será para sempre a sua abreviatura.
E quando por fim eu descansar, afinal nem um ser perdura,
sei que terei meu nome junto ao dela, gravado na sepultura
E mesmo depois disso e para todo o sempre, essa paixão duradoura,
esse amor que nem a eternidade comensura,
fará dela eternamente, minha mulher, minha doçura!

 

(*) Henrique Amaral

  • Autor: Henrique Amaral (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 23 de Novembro de 2020 15:07
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 8

Comentários3

  • Valdeci Malheiros de castro

    Nesses versos de ternura,
    Uma agradável leitura.
    Parabéns. Gostei muito.

    • Henrique Amaral

      Grato pelo elogio e, sobretudo, pela gentileza do colega. Obrigado,

    • Shmuel

      Muito bom mesmo!
      Abracos

    • Henrique Amaral

      Obrigado, colega! Abraço,



    Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.