Três e Trinta

Henrique Amaral

TRÊS E TRINTA (*)

Hora mais distante da vida.
Aflição de quem a existência já não mais permite o sono.
Momento mais apartado da luz.
Desespero de quem a realidade já não mais permite a paz.
Em que a pontualidade da insônia acorda o fantasma que te tornastes.
Na qual angustias e tristezas despertam o teu cadáver que ainda respira.
E então tu molhas o teu travesseiro, tentando suportar a dor de te perceberes ainda vivo.
E então tu pedes que a escuridão te leve, sentindo que já não pertences a este mundo.
Tu já não suportas mais tantas noites de aflição.
Tu já sabes que esta hora estará para sempre em tua vida.
Que nela irá acordar, que ela irá te tomar, que não há mais volta, nem chance de reviravolta.
Cobres a tua cabeça na cova que é teu cobertor.
Tens o teu punho sempre cerrado, pelo hábito de sentires a dor.
Falta o ar, o peito dói.
E o corpo que tenta respirar ofende tua vontade de morrer.
E a dor que não podes suportar é o que te obriga a viver.
Nesta altura da vida, tu já bem sabes que não há Deus, nem compaixão, nem piedade que te livre desta hora mais cruel.
Perto do dia da tua morte, tu já bem sabes que não há amor, nem bem-querer, nem amizade que te dê uma noite sem ela...
... enquanto tu não te fizeres dormir para sempre.

(*) Henrique Amaral

  • Autor: Henrique Amaral (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 20 de novembro de 2020 16:44
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 16
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