CONTOS DA INFÂNCIA (2) (Sonho de Heroi)

Anderson Carvalho

CONTOS DA INFÂNCIA (2)

 

SONHO DE HERÓI

Sonhava em ser herói, como era bom!
Era o Batman, o Tarzan, o Durango Kid...
Saltava de cima das arvores segurando um guarda-chuvas,
como se fosse um paraquedas.
O sonho só era interrompido quando a mãe exigia que cumprisse as tarefas domésticas.
Mas até nessas horas ele sonhava.
Varria o quintal com vassoura de guanxuma, 
lavava o tanque dos patinhos e acabava tomando banho com eles.
Parava para descansar, deitado na rede feita de improviso de tela de galinheiro, embaixo da frondosa goiabeira que quando foi plantada pelo pai, o mesmo jurava que nasceria um pé de romã.
Hahaha, virou motivo de piada.
Recolhia os ovos das galinhas que insistiam em fazer seus ninhos embaixo do porão da velha casa de madeira, onde só ele por ser magrinho e pequeno, conseguia entrar.
Quando terminava, corria para o fundo do quintal.
Brincava, subia em arvores, armava alçapão para pegar passarinho, só para depois ter o prazer de solta-los.
Roubava manga, jabuticaba na chácara do vizinho e depois saia correndo para se esconder, escapando dos tiros de sal da velha espingarda do chacareiro, que quando acertava, ardia as pernas e formava um "vergão".
Mas, nem ligava, a fruta roubada parecia ainda mais gostosa.
e a infância do menino foi saldável como as frutas.
A mãe não podia saber, senão a vara de marmelo iria arder nas pernas, mais do que os tiros de sal do chacareiro.

A pista de patinete de chão batido aumentada ao longo do tempo. Chegava a cem metros de um ponto a outro do quintal.
A largada era dada por um tiro de estilingue disparado sobre uma placa de metal que fazia um enorme barulho.
Ele largaria na frente, pilotando tufão, nome dado ao seu formula um feito com rodas de rolimã, encapadas com talas de borracha e eixos de ferro para aguentar o impacto do famoso "Quebra Eixos".
Obstáculo construído propositalmente no final da pista exatamente para essa finalidade, só para ver qual carrinho era mais resistente.
Quem o superava, era porque tinha ganhado a corrida.
Então tinha que brecar forte, ou se jogar do carrinho, para não cair dentro do córrego logo depois da moita de capim que amenizava a queda.
Tufão, venceu várias vezes.
Mas, confesso que ficava mais nos boxes do que na pista.
Não importava.
Sonhava em ser herói, como era bom!

 

By ANDERSON CARVALHO

  • Autor: Anderson Carvalho (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de novembro de 2020 08:32
  • Comentário do autor sobre o poema: Mais uma lembrança da minha infância.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 5
Comentários +

Comentários1

  • Shmuel

    Puxa, boas lembranças passaram em minha mente. Texto sensível, poeta.
    Parabéns.

    • Anderson Carvalho

      Obrigado amigo Shimul, é uma maneira de perpetuar as brincadeiras de um tempo que não volta mais.



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