N'uma mesa de bar vi sentadas
a tristeza e a saudade.
Noutras mesas sentavam, a dor,
a mágoa e a ansiedade.
No balcão, a ironia sorria
da horrível piada da traição
e misteriosa gargalhada estrugia,
da mentira da falsidade e da dissimulação.
Em um canto, com ar superior,
a hipocrisia falava sobre amor.
O desespero e a indiferença
apreciavam, regida pela descrença,
a desafinada orquestra do mal
que fazia o fundo musical.
Julguei haver entrado em lugar errado.
Notando meu embaraço,
a tristeza pegou-me pelo braço
e a saudade, puxando uma cadeira,
forçou-me sentar à sua maniera.
Deram-me um copo, bebi amargura
e logo sentou-se conosco a desventura.
Corri o olhar por todo o salão
e vi aproximar-se a desilusão
que me perguntou: que procuras afinal?
E eu repondi: a felicidade.
Parou de tocar a orquestra do mal
e ouviu-se então gargalhada geral.
Usou da palavra a saudade.
Silêncio pediu, silêncio se fez.
E aí, a saudade falou outra vez:
porque tu procuras a felicidade
se nós existimos, se existe a maldade?
À felicidade devemos a nossa existência
mas, de sua forma, nem temos ciência.
A felicidade é miragem, quimera,
um monstro, uma fera.
Satânica megera que só males gera.
Anima paixões, fabrica ilusões,
instiga ambições, destrói corações e,
através os séculos, amando o seu nome
a humanidade em vão se consome.
Oh Deus! Quantos crimes foram perpetrados
sendo por esse monstrengo inspirados.
Se tu a procuras por creres que existe,
saiba que o prazer dessa bruxa consiste
em torturar seres, em matar alegria
e aumentar sempre a nossa companhia.
Tu nos encontraste aqui neste bar,
porém, nós estamos em qualquer lugar;
nos continenentes, no mares, nas ruas, nos lares,
nas selvas, nos ares, em todos os lugares.
Nós somos abrigo, revolta, castigo.
Somos peito amigo, odiado inimigo.
Porém, conosco sempre se contará,
e a felicidade? Por onde andará?
Talvez noutro mundo, noutra dimensão.
Mistério profundo, profunda ilusão
Lá nas alamedas do Sidéreo imenso,
entre mil segredos, segundo penso,
talvez permaneça a interrogação:
A felicidade existe ou não?
Porém, pobre amigo, nós somos reais
como vês, nos sentes, somos quase iguais
e te oferecemos a nossa companhia
já que a felicidade negou-te alegria.
Calou-se a saudade e todos sorriam.
Senti que em meus olhos lágrimas afluiam.
Tinha o peito em brasa, quedei sobre a mesa.
Despertei em casa e ameu lado a tristeza.
Dizia a saudade: sejamos para ele, alento, abrigo.
Seremos seu prêmio e o seu castigo.
Fiquemos com ele, será nosso amigo.
E era verdade, ficaram comigo.//////////
- Autor: Alberto Reston ( Offline)
- Publicado: 13 de abril de 2020 15:46
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 14
Comentários2
Uauu maravilhoso e gostei tambem da construcao e dos sentimentos humanos que vc soube muito bem explorar. Muito bom mesmo
Muito obrigado!
Uau! Amei seus versos com esse emaranhado de sentimentos, fez-se sintonia, transformando nessa bela poesia!
Muito obrigado!
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.