A alma complexa e a sua aceitação.

Marcellus Augusto

Minha alma é complexa, 

Eu preciso admitir! 

Não consigo me entender 

Não consigo me explicar 

Não consigo saber quem eu sou

Nem saber o que quero. 

Estou aqui, na madruga, no escuro, no silêncio, 

Escutando as vozes dos meus vizinhos pedindo cerveja no bar ao lado da minha casa, 

Enquanto isso, minha mente trabalha, 

Tão cheio de dúvidas e questões

Dúvidas não racionais, 

Não filosóficas

Não teológicas 

Só existenciais, 

Só pessoais

Talvez, todas banais. 

A realidade me parece um sonho

O mundo externo se apresenta tão frágil e difícil

E sinto todas as minhas sensações congeladas e sem perspectivas. 

Encontrei-me com uma garota hoje,

Tão bela, 

Tão delicada, 

Tão amável, 

Tão gostosa, 

Jovem, no auge da beleza com os seus 22 anos,

Pronta para ser amada 

Exigindo ser desejada como mulher, 

Querendo me amar, 

E eu, como um tolo, não consigo retribuir o mesmo amor. 

Mesmo estando com ela, 

Não me sinto realizado, 

Mesmo sabendo dos seus sentimentos, 

Peço que ela encontre outro, 

Conheça novas pessoas,

Faça novas amizades,

Seja feliz com alguém que a ame, 

Principalmente: não sofra por minha causa.

No meio desse ciclo de confusão, 

Eu percebo que gostei de quem não gostava de mim, 

E, agora, desprezo quem daria tudo pra estar ao meu lado. 

Queria receber a ligação de uma determinada pessoa, 

Mas não recebi,

Fui encontrado, por quem não queria,

Estou sendo amadado, por uma pessoa que não pedi amor,

Mas, para quem pedi, só encontrei silêncio e indiferença

Hoje, estou sofrendo por quem não me quer e possivelmente fazendo outra sofrer.

Meu erro é buscar um amor de verdade,

Buscar alguém que me complete, 

Alguém que me realize, 

Alguém que eu possa acordar e falar de poemas, 

Falar um pouco de tudo, 

Dos céus,

Da terra,

Do cosmos, 

Do nada,

De Deus,

Dos deuses,

Dos homens,

E dos demônios. 

Alguém que eu possa encontrar e admirar, 

Alguém que eu possa encontrar amor, intensidade e satisfação. 

Mas a minha alma é tão complexa,

Tão difícil, 

Tão impossível, 

Tão dura,

Tão racional

Tão irracional

Tão real 

Tão esmagadora 

Tão cruel, 

Mas tão verdadeira, que não posso mentir para mim.

Se eu fosse uma pessoa de alma simples, 

Que só se preocupasse com o trabalho das oito às dezoito, 

Que só tomasse sua cerveja no final de semana e assistisse o seu jogo de futebol em paz, 

Que só escutasse o seu forró sem se preocupar com as grandes questões da vida,

E tivesse uma noite de sexo com alguma mulher "gostosa", 

Eu estaria mais feliz. 

Mas quando penso isso, 

Sinto o meu coração me apertar, 

Sinto uma sensação de que não estou sendo quem sou, 

E com medo de não assumir quem sou, 

Escondo meu rosto, 

Coloco um pseudônimo, 

Não assumo a minha identidade,

Coloco uma máscara, 

E não tenho coragem para me mostrar, 

Não tenho forças para assumir, 

Sem nenhuma certeza do meu eu, 

Estou preso entre o personagem e a pessoa real, 

Entre assumir quem sou ou continuar me escondendo no pseudônimo que fiz na vida. 

Talvez esteja na hora de assumir o meu "eu" de verdade,

De tomar as minhas decisões e não temer as consequências,

De não me esconder, porque sou jovem, 

Sim, eu preciso assumir quem sou, 

Eu sou o cara que adora filosofia, 

Eu sou a figura que ama teologia,

Eu sou o acadêmico que se encanta com antropologia, 

Eu sou o pesquisador que estuda sociologia,

Eu sou o homem que chora com os poemas, 

Eu sou o menino que se delícia com história e literatura,

Eu sou o gênio que assiste futebol e explica o desenho tático das equipes e como elas se desenvolvem, 

Eu sou o bobo que acredita no amor, 

Eu sou o otário que ainda prefere se deitar com uma mulher, apenas quando você a ama de verdade.

Nessa encruzilhada que estou metido, 

Vou pensando como resolver os meus problemas, 

Vou me descobrindo quem sou diante da adversidade,

Nessa reflexão, todos os meus valores estão em xeque, 

Todos os meus princípios são colocados na mesa,

E só por meio dos meus poemas, 

Poemas que tenho vergonha de exibir, 

É a forma que encontro para me expressar,

A forma que tenho para testemunhar as minhas sensações

É o meu diário de confissão perante a história 

É o meu livro aberto, mas com autoria anônima,

É a minha tese acadêmica, sem banca para debater. 

Sigo, sabendo da complexidade do meu ser

Compreendendo o preço e as consequências da minha alma, 

Buscando, verdadeiramente, as respostas,

Vou caminhando, 

Vou continuando e refletindo, 

Declamando os meus poemas, 

Esperando o palco da vida me oferecer uma grande história,

Um grande amor, 

Uma grande história, 

Um grande enredo, 

E me tornar o ator principal da minha própria história. 

 

 

  • Autor: Místico (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de outubro de 2020 02:40
  • Comentário do autor sobre o poema: Não tenho muito o que dizer. Esse sou eu, todas as minhas questões, minhas dores, minhas respostas para hoje. Sou eu, o Marcelo, diante do hoje e encarando o presente e se preparando para o futuro.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 17
Comentários +

Comentários1

  • Maria dorta

    Marcelo,dentro de você tem MAR e tem também.como musicar ( celo) pois tens tudo para a charada matar: tornar em poema as tuas ondas de mar usando um violenCELO para tudo musicar e com tanta beleza musicada,terias um pouco de beleza,paz e aceitação na tua rota da vida!



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.