A GALINHA CEGA
( inspirada na fábula de Lessing)
Certo dia uma galinha,
Contraiu gota serena
Coitadinha, ficou cega,
E quase que se envenena.
Procurou um peru louco,
Com diploma de oculista
Conhecido ele era pouco,
Mas era especialista.
Infelizmente o doutor,
Que Cursara a faculdade
Era mesmo um professor
De prosápia, na verdade.
Não passava de boato,
Ele jamais trabalhou
Era formado, de fato,
Trampo ele nunca enfrentou.
Comeu o dinheiro dela,
Passou remédios errados
Deixou a pobre amarela,
Com os olhos arregalados.
A galinha não teve cura,
Foi viver na escuridão
Com uma grande amargura,
Ciscava a terra, então.
Mas, embalde ela ciscava,
Porque um capão olhudo
O que a pobre encontrava,
Ele devorava tudo.
Ele vinha de mansinho,
E bem de perto a seguia
Ela achava um bichinho,
Ele – de pronto – engolia.
E alimentava a ceguinha,
Com o pouco que sobrava
Assim, comida ele tinha,
E ela só trabalhava.
Qual será a simetria,
Da fábula, com a nação
Onde o povo, noite e dia,
Paga imposto de montão
E na hora de ter de volta
Os serviços que merece,
Causa até uma revolta:
O imposto desaparece?!...
***
(Maria do Socorro Domingos)
Gotthold Ephraim Lessing (Kamenz, Saxônia, 22/01/1729- Braunschweig, 15/02/1781) foi um poeta, dramaturgo, filósofo e crítico de arte alemão.
- Autor: Maria do Socorro Domingos ( Offline)
- Publicado: 17 de outubro de 2020 18:46
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 15
Comentários1
Muito boa comparação essa nossa triste situação com a do crítico alemão. Temos que sair da escura cegueira e escolher melhor nossos " salvadores".
Boa noite, Maria!
Estou um pouco atrasada, mas agradeço-lhe as palavras de incentivo.
Desejo-lhe um Ano Novo pleno de amor e de paz.
Um abraço.
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