Uma pulga orgulhosa
Seguia pelo deserto,
Reclamando do calor
E sem ter água por perto,
Quando avistou um camelo
Disse: - Agora eu acerto!
Ela já estava cansada
De pular na areia quente,
Queria seguir viagem
Para um lugar diferente,
Para então poder mostrar
O quanto era inteligente.
O camelo solitário
Seguia muito sisudo,
Não se importava com nada
Não tinha lá muito estudo,
Porém, em sua corcunda,
Ela levava de tudo.
E a pulga ardilosa
Que se achava inteligente,
Queria uma carona
Que lhe deixasse contente,
Porém sem ter que pedir
Nem falar com aquela gente.
Pensou: - Vou ficar de olho
E quando ele dormir,
Pulo na corcunda dele
E ele sequer vai sentir.
Quando chegar à cidade
Eu vou é me divertir.
Ela ficou à espera
Que o camelo, cansado,
Tirasse um bom cochilo
E assim, naquele estado,
Ela pulava em seu lombo.
O destino estava traçado.
Certa hora o camelo
Não agüentou e caiu,
De sede e de cansaço
Ali mesmo ele dormiu;
Mais tarde ele acordou,
Tomou seu rumo, seguiu.
Ela, bancando a esperta,
Ia bem acomodada,
De carona com o camelo,
Já sonhando acordada,
Pensando ser a rainha
No reino da pulgarada.
Caminharam muitas léguas
Pelo deserto afora,
O camelo sempre calado
Não via chegar a hora,
De descarregar a carga
Para depois ir embora.
A pulga muito arrogante
Julgava-se superior,
Ignorava a todos
A ninguém dava valor,
Escolhia as amizades
Por credo, raça e cor.
Assim, após longos dias
De intensa caminhada,
Eles chegaram ao final
Daquela boa jornada
E o camelo resolveu
Tirar a carga pesada.
Mas antes a nossa pulguinha,
Serelepe e bem ligeira,
Pulou em terra e tentou
Desdenhar, por brincadeira.
Veja o que ela falou,
Já na hora derradeira:
— Obrigada, meu amigo!
És um camelo infeliz,
Porque sequer me notaste
E eu de escravo te fiz,
Viajei sobre o teu lombo,
Será que tu tens nariz?
Mesmo assim eu te agradeço
Serviste-me e muito bem.
Saindo de tuas costas
Diminui o peso também,
Porém és tão desligado,
Não enxergas nada além.
Eu já estava com pena
Por te causar um cansaço,
Acho que teu corpo inteiro
Está feito um bagaço,
Agora, adeus! Até logo!
Fica aí com o teu laço.
O camelo disse: - Puxa!
Tu vinhas sobre o meu lombo,
Engraçado, nem notei
Nem mesmo tomei um tombo,
Pois tu és tão pequenina,
Não causas nenhum assombro.
Vieste em minhas costas,
O meu fardo não se alterou.
Na certa, por onde passei
Também ninguém te notou
E é isto o que importa:
Tu segues - Eu cá estou!
E a pulga interesseira,
Que pensava ser beldade,
Compreendeu, num segundo,
Uma terrível verdade:
Era insignificante,
Apesar da vaidade.
***
Moral da história:
Não penses, meu companheiro,
Que és um ser superior:
Diploma, luxo, dinheiro,
Ou seja, lá o que for,
Tudo será passageiro
Permanente, só o amor!
(Maria do Socorro Domingos)
Cordel baseado na fábula de Esopo, fabulista grego do século VI A.C.
- Autor: Maria do Socorro Domingos ( Offline)
- Publicado: 8 de outubro de 2020 20:00
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 11
Comentários2
Que pulguinha mais arrogante!
Bela fábula, poeta, Maria do Socorro Domingos.
Boa noite!
Boa noite, Shimul! Gosto das fábulas pois elas nos trazem grandes ensinamentos.
Um grande abraço.
Muito bom, adorei a moral!
Muito obrigada, PB. Na verdade, as fábulas nos dão belas lições de moral. Um abraço.
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