Rafael Marinho

Melhor um cachorro amigo do que um amigo cachorro


Aviso de ausência de Rafael Marinho
NO

CAPÍTULO 1

Tiago queria muito ter um cachorro amigo, mas naquele dia a vida lhe deu um amigo cachorro.

Tudo começou quando o menino ouviu uma batida na porta e foi ver quem era. Chegando lá, não era ninguém. Mal fechou a porta e bateram de novo. Dessa vez, Tiago olhou para baixo e viu um cachorro bem fofo.

Foi aí que menino deu um sorriso, pegou o bicho em seus braços e teve uma ideia brilhante.

 

CAPÍTULO 2

A mãe ouviu passos se aproximando da cozinha e já se preparava para o pior.

"Olha, mãe", Tiago se aproximou com um animalzinho na mão, "Podemos adotar ele?"

A mãe soltou um suspiro de alívio.

"Ah, ufa. Isso a gente pode. Essa ideia é melhor do que a da semana passada"

A ideia da semana passada: "Mãe, por que não transforma nossa residência num canil?"

Porém, ela não podia culpá-lo por ter essas ideias doidas. Filomeu, o último cãozinho deles, tinha morrido e, desde então, Tiago estava dando surtos desse nível. Agora com um novo cachorro, a vida dele podia voltar ao normal.

Isso se o cachorro não fosse alienígena. 

 

CAPÍTULO 3

Mas antes de descobrir isso, o menino não se aguentava de felicidade. A alegria foi tanta que ele logo levou o doguinho para brincar no seu quarto. E foi ali que ele teve uma surpresa.

"Bom, já que você vai morar aqui, vou botar um nome em você. O que acha de Filomeu?"

Foi aí que cachorro resolveu dar sua opinião:

"Ah, não vem com esse nome de gente morta pra cima de mim não. Você é pancado da cabeça?"

Naquela hora, Tiago deu um tapa na própria cara e arregalou o olho.

"Meu Deus, você fala?"

"Ué, qual o problema? Você também fala e eu não dei esse ataque de pelanca todo"

"Mas como você consegue?"

"Bem, é simples: eu uso um instrumento exótico e milenar chamado boca"

"Ma-mas cachorros não falam"

"É que eu não sou um cachorro comum, meu caro. Eu sou do planeta Cachorrania, onde todos os cães são assim"

Mas essa página ia demorar pra carregar no cérebro de Tiago.

 

CAPÍTULO 4

"Peraí, não tô entendendo. Se você é de outro planeta, por que você veio parar aqui?"

"Bem”, o cachorro começou, “eu vim aqui por que meu planeta é controlado por um aparelho. O dia, a noite, a chuva: é só apertar o botão na hora certa que eles vêm. Só que sem querer enviaram o controle pra essa Terra. E agora o sol não aparece em Cachorrania já tem três dias. Como as plantações de ração vão crescer?".

O olho de Tiago brilhou. Ele não entendia como um planeta podia ser controlado por um joystick, nem como eles plantavam ração sabor carne, mas achou aquilo muito maneiro.

"Então", pressionou o cachorro, "Vai ficar aí com essa cara ou vai me ajudar?"

Foi aí que Tiago decidiu. "Pode contar com meus serviços."

"Ótimo, então vem comigo", convocou o cão, "Eu tô vendo no meu GPS que o controle tá bem perto daqui. Tomara que ninguém comece a brincar com ele de novo."

"Beleza, deixa eu só ver onde é"

Tiago pôs os olhos sobre o ombro do cachorro e teve um mini ataque cardíaco.

"Ah, não", disse Tiago, "Aquela era a casa do vizinho mais chato da rua"

“Droga”, lamentou Filomeu, “isso quer dizer que ele vai receber a gente com tijoladas?”

"Calma", Tiago disse, "Vai ser moleza, ele não sabe da importância do controle pra Cachorrania. Deve estar pensando que é de XBOX 360. Sem contar que eu tenho um plano"

"Como assim?"

"No caminho, eu te explico", disse Tiago, "Vou só pegar um negócio pra comer e já vou estar pronto pra missão, Filomeu"

"Filomeu, uma ova. Meu nome é 0345, me respeita, viu?”, reclamou o cachorro, “Mas se tu me arrumar uma carne de dinossauro aí, eu posso até deixar você me chamar assim"

Só que Tiago tinha uma novidade.

"Ih, cara, aqui eles foram extintos. Vai ter que se contentar com as frutas"

E assim que chegou à cozinha, jogou uma laranja em cima do cachorro.

"Como assim, não tem dinossauro?", o cão reagiu, "Mas que planeta chato"

"Bom, vamos discutir qual planeta é mais top depois de acharmos o controle do seu, ok?", disse Tiago pondo o resto do saco das laranjas na mochila.

 "Combinado", disse Filomeu, "Mas pra que vai levar tanta fruta? Tá pensando em fazer uma vitamina ou o quê?"

Tiago fez suspense.

"Melhor ainda", ele disse, "Tô pensando em fazer um show".

 

CAPÍTULO 5

E foi assim que começou a caça ao controle.

Quando chegaram lá espiando pela janela, viram que o vizinho não estava com cara de bons amigos. Sem contar que ele tinha dado o controle como brinquedo para o seu filho de dois anos.

Com isso, Filomeu surtou, achando que o moleque ia apertar o botão errado e acionar o fim do mundo em seu planeta.

"Calma, esqueceu do plano?", Tiago disse ao se aproximar da porta do vizinho, "Eu vou falar com ele. Quando ele se distrair você pega o controle, ok?"

"Ok"

 

CAPÍTULO 6

*Toc-toc*

"O que vocês vieram fazer aqui?", o vizinho atendeu a porta, cruzando os braços.

Tiago disse: "Vim mostrar minha obra de arte pro senhor. Olha só".

E, esvaziando sua mochila, começou a fazer malabarismos com laranjas.

Naquele momento, o vizinho ficou impressionado. O filho também largou o controle pra lá e ficou com os olhos brilhando. Até Filomeu achou maneiro aquele truque. 

Mas o cachorro não deixou a chance escapar: ele logo entrou pela janela, abocanhou o controle e foi saindo de fininho.

"Mas como você consegue fazer isso?", perguntou o vizinho com os olhos fixos nas laranjas.

"Ah, eu uso a ferramenta exótica e milenar chamada mão", disse o menino.

Mas naquela hora Tiago foi usando a ferramenta chamada pés pra ir saindo de fininho também.

"Fim da apresentação", anunciou o menino se afastando aos poucos, "Pra cada minuto a mais quero uma nota de 200".

E foram embora. 

O filho do vizinho começou a chorar sem o brinquedinho, mas já não era problema de Tiago ou de Filomeu, ops, 0345, pois eles já haviam metido o pé dali.

 

CAPÍTULO FINAL

Assim, os dois chegaram em casa sãos e salvos. O cachorro, enfim, conseguiu apertar o botão certo para colocar seu planeta nos trilhos de novo e impedir o fim das plantações de ração.

"Obrigado, Tiago, não vou me esquecer de você"

"Nem eu, Filomeu"

Então, o amigo cachorro pegou uma nave e #partiuCachorrania.

Por fim, quando caiu a noite, Tiago olhou para o céu e viu uma estrela piscando pra ele. 

E teve certeza que era o seu amigo mandando um obrigado.

  • Autor: Rafael Marinho (Offline Offline)
  • Publicado: 1 de Outubro de 2020 21:01
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 10


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