O que eu lembrei do que eu pensava
O que eu achava que seria
As melhorias que buscava
Um fim pras melancolias
Um amor pra vida inteira
Estabilidade pra família
Sonhei, formei, firmei, gastei
Energia em poesia
É que ninguém investiu
Pra eu começar ter.
Ninguém me ouviu
Quando eu queria dizer.
É que ninguém ensinou
Quando eu queria aprender.
E hoje sou eu quem inspira
e recita o que eles quer ser.
É que o governo não pagou
Pra eu aprender a ler.
Hoje eles me pagam
Pelas letras que eu quero escrever.
Eu sofria porque um dia
Me fizeram perceber
O que hoje é meu sossego
Eu não nasci pra perder.
Eu lembro que eu desconfiava
De tudo o que eu via.
Não era falta de fé,
Crises de agorafobia
Agora tudo é fobia
Bullying e hipocrisia.
Antigamente quem dizia
Morria enquanto eles ria
Acendo uma vela
pra todos os santos que morreram jovens nas favelas, e não só nas telas
Pra cada alma que gela
e que pela chama espera
Eu acendo uma vela e
que ela queime minhas sequelas
Daquelas tantas noites sem dormir olhando da minha janela
Luzes da cidade embaçam
o pensamento suspira.
Madrugada a dentro passa
Lentamente me admira
Toca as notas do silêncio
Que é pra ver se alguém as tira.
Aspirante a poetisa
Completo a noite com lira.
Licor e cerveja,
cannabis sativa,
Sabor que me beija e espreita
e me mata na esquina.
Amor é erva daninha,
Amarga igual cocaína,
Vicia igual heroína,
Te ilude igual codeína.
Eu vejo o tempo voltar
Desde que eu era menina,
Repetindo os mesmos erros
E esquecendo as rimas.
Harpyja nasceu chorando
E cresceu ave de rapina.
Esse poema é o enterro
De quem me olhou de quina.
Fala mais falador,
Fala mal mas só fala de mim.
Fala até que faz, meu fã,
Melhor assim.
Minha vó que me ensinou
Que quem faz macacada
Quando não alcança a fruta
Finge que ela tá estragada.
Estranhei, pensei melhor
Escrever no fim
Essa filosofia simples
Do flautista de Berlim.
Se quem canta chama os rato,
Joga eles na enchorrada,
Enfeitiça as criança com nota e
Ensina a se perder na estrada.
Tenho um filho pra criar
Meus erros de caminhada.
Músicas que eu fiz pra mim,
Pra eu cantar de madrugada.
Calada, cansada,
Embalada pela catuaba
Cartas suicidas
Cada palavra é uma bala
Morro todo dia
Nasço e morro de novo.
Subo e desço o morro,
Todo dia, e morro nele sem socorro.
Medo de quem policia
Já nem sei de quem eu corro!
É melhor ficar em casa
Que aí nem de Corona eu morro.
Comentários2
Muito profunda a sua poesia, poeta.
Gostei muito.
Obrigada amigo. A superficialidade não me apetece muito, embora isso deixe meus versos sempre muito pesados. Agradeço seu comentário. ?
Harpyja, amo esse seu poema. Gosto da musicalidade que há nele e do tema que expõe. Um poema forte concebido pela força da Fênix que se renova, que se reinventa a cada dia.
Parabéns, a grande poeta!
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