Marcellus Augusto

O homem microcosmo - a procura de sentido

Mais um dia se passa nesse longo ano

Nesse difícil ano para todos nós, 

Aqui estou escrevendo o meu poema, 

O poema do poeta anônimo

Ou do poeta que finge ser poeta.  

Os dias se passam,

Crescem os sonhos,

Aumentam as frustrações,

Os pensamentos dominam,

Mas são poucas as ações. 

Passo o dia pensando: "o que vou escrever?"

Tenho inspiração?

Tenho talento? 

Será que na minha área serei bem sucedido?

Será que serei amado?

Será que amarei?

Será que realizarei o que sonho?

Ou do que penso que sonho?

Será que conseguirei superar os meus próprios pensamentos?

Será que serei algo? Ou jamais serei? 

Então, diante de tantos pensamentos, 

Junto com os pensamentos dos pensamentos

E a minha própria percepção de que estou pensando,

A única coisa que me deparo é com a minha presença na frente do computador.

Tudo isso me assombra, porque tenho a percepção que percebo

Ao mesmo tempo, que toda a existência parece um sonho

Mas um sonho que eu jamais iria repetir, 

Não por excessos de dores, mágoas ou tristezas, 

Mas por falta de algo, falta da falta

Falta de algo que não sei o que é, mas sei que há. 

É impossível verbalizar de maneira lógica, 

Sinto que nenhum silogismo é capaz de resolver as minhas respostas,

Sinto que nenhum quadrado lógico é capaz de me responder,

Caso me responda, seria uma falácia lógica e nada mais. 

Os filmes? Pouco me consola, só me emociona

Mas amanhã, eu esquecerei os nomes dos personagens

Ou me confundirei na trama, ou perceberei que deixei algo passar

No final nada disso me adiciona e nem responde as minhas questões. 

Não, não é depressão, não é melancolia, não é tristeza,

Não sei o que é, só sei que é um anseio por respostas, 

Um anseio por sentido, finalidade e clareza de todas as coisas. 

Como alguém que tem a visão embaraçada pela escuridão da noite,

Assim estou eu. 

Dentro do meu quarto escuro em volta estão os meus livros,

Poucos livros, mas preciosos, são os únicos que me consolam

São os únicos que me levam ao desconhecido, mas de forma segura, 

Mas ainda assim, sinto que traio todos eles, quando me distancio um pouco,

E procuro tatear por conta própria.

Talvez seja a juventude,

Sim, eu sou jovem, 

Tudo isso possa ser infantilidade da minha parte,

Tudo isso possa ser uma simples reflexão,

Reflexão de um jovem com a alma complexa

Uma alma cheia de complexidade e profundidade,

Desejosa pelos mistérios da vida, 

Pelas reflexões mais complexas,

Pelos sistemas metafísicos mais desafiosos 

Ou talvez por nenhuma dessas coisas. 

Do mesmo jeito que Deus retraiu-se para criar todas as coisas,

De acordo com os sábios cabalistas,

Retraio-me como uma forma de encontrar algo novo em mim,

Algo que nasça do nada, algo que me faça ser melhor do que sou,

Melhor do que fui, talvez, melhor do que serei amanhã. 

Como um mago que utiliza as forças sutis da natureza,

Trabalho com as forças sutis do meu ser, 

Todas que não foram abordadas,

Todas que não foram escutadas,

Todas que não foram vistas e percebidas

Além das outras que necessitam de atenção e cuidado. 

Como um alquímico cuidadoso que trabalha com enxofre, mercúrio e sal

Estou eu, aqui, trabalhando com os princípios alquímicos do meu ser.

No final, silencio-me e deixo a minha alma falar, escuto o que ela anseia,

Existem momentos que o silêncio responde as nossas dores e dúvidas,

Aqui estou cheio de dúvidas, mas sedento por respostas.

Como uma forma de derramar todas as minhas inquietudes

Derramo todas nesse projeto de poema, 

Nesse protótipo falido de poesia, 

Escrito por um poeta que fracassou em ser poeta antes de tentar.

Mas assim, vou caminhando e seguindo na estrada da vida,

Nos desertos da existência, nos jardins da alegria, nos rios da tristeza 

E nas nuvens dos segredos e dos mistérios arcanos divinos. 

  • Autor: Místico (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de Setembro de 2020 16:22
  • Comentário do autor sobre o poema: Uma reflexão particular que escrevi, eu utilizei figuras de linguagens cabalistas, alquímicas, esotéricas e cristãs, como pano de fundo. Coloco uma imagem do homem microcosmo das visões de Santa Hildegarda de Bigen.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 36

Comentários1

  • Shmuel

    Cara tá muito bom.!
    Li e reli para ter uma melhor compreensão.
    Sempre teremos esses conflitos e qiestionamentos. Ainda mais em tempos atípicos.
    Parabéns,
    Poeta, Peregrino Anónimo.

    • Marcellus Augusto

      Obrigado, meu amigo. Até aproveitei para revistar e acertar uma coisa ou outra que deixei passar. Obrigado mesmo, sempre escrevendo e compartilhando com vocês.



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