Para poder falar de amor                            Eu teria que ter amado
Teria que ter vivido
Alguma paixão intensa
Que faz virar a cabeça
Passar as noites em claro
Sorrir Feliz
Falar sozinha
Atropelar o tempo
Saltando os obstáculos
Pra fazer chegar depressa
O dia, a música
O encontro.

Para saber falar de amor
Com certa propriedade
Eu teria que ter sofrido
Quando, depois dos encontros
Viesse um desencontro.
Nele o amor partiria
Sem a palavra adeus
Conforme prenunciado
Não gostar de despedidas
E eu me esvaindo em pranto
Em silêncio
Pelos cantos
Por uma semana inteira.

Eu poderia  imaginar 
Que após a sua partida
Feito louca eu pensasse
"Melhor tivesse morrido
Pra não ver morrer o amor"
Porque o triste do amor
Deve ser o esquecimento
A hora do sentimento
Ir saindo devagar
Deixando no seu lugar
Um vazio coração 
Feito casa abandonada
Planta seca no deserto.

Na minha percepção do tempo
Após um mês da partida
Séculos haveriam se passado.
E, se do nada, o mesmo amor
Voltasse assim de repente
Tentando reavivar a chama
Não me reconheceria 
Na casa redecorada
Na alegria forçada
Escondida a cicatriz.
Desse modo, algum dia
Nas páginas da saudade     
Uma história eu contaria.