A escuridão não chega.
Ela sempre esteve aqui.
Mora nos cantos do quarto,
entre roupas que não têm mais cheiro
em sonhos que mofaram antes de nascer.
Eu caminho como um erro repetido,
um homem deslocado no próprio tempo.
O mundo me ensinou a esperar demais
e ofereceu quase nada em troca.
Prometeu sentido,
entregou ruído.
As pessoas falam de amor
como quem fala de um produto vencido.
Usam, descartam, seguem.
Relações são contratos frágeis
assinados por mãos que tremem
de medo de sentir.
Meu romantismo apodreceu em silêncio.
Respeitar virou anacronismo.
Escrever virou eco.
Sou um homem inteiro
num mundo de metades
que se orgulham de não sentir culpa.
Os pensamentos ruins não pedem licença.
Eles sentam comigo à mesa,
comem do mesmo prato,
me olham nos olhos
e dizem que nada disso valeu a pena.
O mundo me decepciona
porque não falha em me provar
que ser sensível é perigoso
e ser cruel é eficiente.
Homens não são mais homens como eu sou
são máscaras rígidas e eu acredito na beleza de uma mulher
mais hoje em dia o fútil e o supérfluo são mais agradáveis.
Há noites em que a existência pesa
como um corpo que não é mais meu.
Respirar vira obrigação,
acordar vira punição.
E a ideia de desaparecer
não vem como tragédia,
mas como tentação limpa,
sem barulho,
sem explicações.
Não quero morrer só acordar em outro lugar
quero parar de existir desse jeito.
Quero silêncio sem culpa,
descanso sem julgamento,
um mundo onde sentir
não seja sentença.
Se este tempo escurece tudo,
é porque eu ainda enxergo.
Mas há dias em que até a visão cansa
e a esperança parece apenas
uma mentira bem escrita.
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Autor:
SADE (
Offline) - Publicado: 30 de dezembro de 2025 08:47
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
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