SO ANDAS NOS VENTOS

Filho de Branco


SÓ ANDAS NOS VENTOS
Todos os dias estás... longe.
Medido em milhas,
imune ao peso do meu azar.
Depois, atiras-me a culpa ao rosto,
enquanto outros lábios
te provam e te degustam a pressa.
Eu fico.
No avesso da rua, na redoma da casa.
Com uma criança que chora
em intervalos de sol.
Na cozinha,
entre o metal das panelas e o mofo do silêncio,
ela puxa-me a alma, esse fio gasto, e diz:
“Mãe... quero o papai.” Faz tempo que ele é só uma sombra no corredor.
Tenho fome do seu beijo,
do abraço que era parede e abrigo.
E ali, entre o prato e o pano,
a tristeza incuba.
Um ovo de chumbo no meu peito.
Enquanto isso, tu danças nos teus eventos.
Somes.
Um turista de ti mesmo, algures em Cuba,
colecionando postais de momentos vazios.
Eu só queria o teu “oi”,
uma palavra-ponte.
Mas o teu silêncio é um músculo que me dói.
Se amanhã o mundo desabar,
eu já conheço o culpado:
o meu reflexo no espelho da sala.
Não queremos promessas de vidro.
Queremos o chão, o cuidado, o agora.
Corta as asas, aterra os pés.
Família não é brisa.
É raiz.


Mas essa raiz
que eu sempre quis
nas nossas vidas não está viçosa
são outros os teus intentos
preferes a distante Cuba e os eventos
e esqueces que tens uma criança
que chama por ti
que precisa de ti
perdi a esperança.
continua com o teu silêncio tumular
não te irei mais chamar

  • Autores: Filho de Branco, Arthur Santos
  • Visível: Todos os versos
  • Publicado: 27 de dezembro de 2025 15:06
  • Limite: 6 estrofes
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  • Categoria: Não classificado
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