Sentinela do Horizonte Vazio

Eder Maurilio Soares

 

No cume do mundo, onde o tempo se apaga,

Ergue-se o vulto sem nome e sem face.

Não há batismo que o prenda à linhagem,

Pois ele é o homem que a espera define,

A sentinela de um reino que nunca nasce.

Seus pés são raízes no chão de cascalho,

Dia e noite fundidos em um só metal.

Vigia o leste com a têmpera do aço,

Enquanto o sol, como um carrasco de ouro,

Marca no couro o seu selo fatal.

Ao seu lado, deitada, a fera constante:

A Solidão, como um cão de guarda fiel.

Não late, não pede, não busca o carinho,

Mas encosta o flanco gelado no mestre

E bebe com ele o mesmo fel.

Seus olhos são poços de um mundo esgotado,

Miram o horizonte, o deserto, a distância.

Não há brilho de água, nem rastro de pranto,

Pois as lágrimas todas, em eras remotas,

Secaram na sede de tanta constância.

O olhar é de vidro, de sal e de vento,

Um espelho seco de um céu sem clemência.

Não busquem nele o fervor do crente,

Nem a prece febril que o milagre implora.

Sua fé desintegrou-se no moedor dos anos;

Ele não espera porque crê na chegada,

Mas porque o esperar é sua única aurora.

A espera virou seu sangue e seu osso,

O hábito amargo de quem não vai embora.

É como a pedra na beira da praia,

Que recebe o açoite da vaga cinzenta.

A onda o golpeia, o vento o descasca,

A espuma o devora em fúria violenta,

Mas o mineral de sua alma resiste:

Quanto mais o ferem, mais ele se assenta.

Suporta o inverno, o desdém e o silêncio,

Pilar solitário no centro do nada.

A Paz é um mito que os ventos contaram,

Uma promessa que a estrada esqueceu,

Enquanto ele guarda a fronteira deserta,

Na vigia eterna da vida parada.

O mundo desaba, as eras se trocam,

Mas ele permanece, estátua de dor.

A paz nunca vem, e o horizonte é vazio,

Mas ele vigia, resoluto e sombrio,

Onde a esperança já perdeu o valor.

  • Autor: Bardo de Ferro (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de dezembro de 2025 23:46
  • Comentário do autor sobre o poema: Este poema, é sobre a espera que vira pele e osso: quando a esperança morre, resistir torna-se a única forma de viver.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 3


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