O Eterno e Mudo Sonhar

Eder Maurilio Soares

És como deusa, em trono de marfim esculpida,

Divina essência, de pureza inaudita.

Teus olhos detêm o clarão da própria Lua,

Que em noites de prata, a alma desnuda.

Teu riso, qual astro-rei em zênite ardente,

É ouro vertido, sonho incandescente;

Um raio sagrado que o destino traça,

Iluminando a vida que, sem ti, é fumaça.

Quando passas, o Cronos detém seu compasso,

O mundo emudece perante o teu passo.

Teu semblante seduz, qual feitiço ou canção,

E em festa galopa o meu coração;

Deságua o peito, em pressa e agonia,

Numa luz absoluta: uma epifania.

Sob meus pés, o espelho das águas turvas,

Reflete a mágoa em suas tristes curvas.

As poças, que o céu em degredo contêm,

Trazem a imensidão ao chão que me detém.

Tão baixo é o solo, quão ínfima é a lida,

Desta alma em retalhos, desta vida partida.

Oh, reflexo amargo de um peito em destroços!

Meus olhos são poças, em prantos remotos.

Delírio em vigília, sonho em desalento,

Buscando o teu rastro no açoite do vento.

Tu és o Olimpo, a glória, o altar...

E eu, sombra herdeira do próprio nada,

Condenado ao eterno e mudo sonhar.

 

  • Autor: Bardo de Ferro (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de dezembro de 2025 23:26
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 3
Comentários +

Comentários1

  • Shmuel

    Muito lindo mesmo! Um poema com visíveis influências parnasianista. Adorei !

    Abraços!



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