Saudade

Dizem que só quem sente saudade tem sorte,

sorte de ter vivido algo bom.

Um amor

que se foi

e deixou lembranças no peito.

Li um poema que dizia:

saudade é saudade,

mas não é tudo igual.

Existem saudades que a gente mata,

e existem saudades

que matam a gente.

Existe a saudade da infância,

que a gente sabe

que não volta mais.

Saudade de alguém que ficou à distância,

saudade de casa,

do colo dos pais.

Existe a saudade dos amigos passados,

com quem aprontávamos estupidez,

e saímos pra brincar pela rua

sem saber

que era a última vez.

Mas eu acredito que a pior saudade,

talvez não existam saudades iguais,

é a de alguém que partiu dessa vida,

que foi sem dizer

e não volta mais.

Saudade é estranho, se pensar direito,

é algo abstrato

que machuca o peito.

A gente não vê,

só sente — e chora.

Mas pensando bem,

botando tudo na balança,

saudade é parte da nossa lembrança,

é o que ficou

do que já foi embora.

Encerro dizendo pra quem tem saudade:

a vida é assim,

mas escute uma verdade:

as boas lembranças curam a ferida.

Eu sei que machuca,

mas é bom lembrar:

só quem tem histórias boas pra contar

é quem tem saudades

na vida pra guardar.

E pensando assim,

eu tive muita sorte.

A saudade não passa,

não vai embora.

Não diminui.

Não dói menos.

Só muda o jeito

de doer por dentro.

Saudade só sente

quem ama.

Só sente

quem teve

muita sorte.