A Liturgia dos Sentidos

Entre os véus cifrados deste texto, aqui me perceberás, 
não mais como espectro, mas como presença tátil que te invade. 
Onde o verbo, inflamado de desejo, se derrama e te circunda, 
cada frase te alcança como um comando íntimo, irrevogável.

Enquanto teus olhos sorvem estas linhas, 
cede ao impulso que te desperto. 
Liberta tua mão para que ela, guiada pela minha cadência, 
ascenda devagar até a curva túmida dos teus seios. 
Sente, sob a palma, o palpitar descompassado que estas sílabas provocam.

Permite que teus dedos circulem os cumes dessa geografia, 
roçando as gemas que endurecem à medida que o verso avança. 
O que lês não é tinta; é o toque que tua pele reclama, 
e cada pontuação é um pinçar leve, um estímulo que te percorre a espinha.

Agora, deixa que a carícia deslize, peregrina, pela planície do ventre. 
O poema desce, e tua mão deve acompanhar a gravidade do anseio. 
Minhas palavras amadurecem, tornam-se densas, lúbricas, 
aprofundando-se como carícias que já não podes conter.

Respira o poema. Sente o ar faltar. 
A leitura torna-se vertigem. 
É o momento de transpor o último limite, o véu sagrado. 
Guia teus dedos para o centro de tua feminilidade, 
onde o desejo se liquefaz e aguarda, pulsante, minha chegada.

Toca, então, a tua flor. Não com pressa, mas com a devoção de um rito. 
Afasta, pétala por pétala, as dobras que guardam o teu segredo. 
Explora a textura úmida dessa corola que se abre para o texto, 
e em cada fricção, reconhece a minha língua, a minha insistência.

Sê minha — neste abismo onde a leitura e o tato se fundem. 
E quando o ápice te convocar, vibrante e inevitável, 
saiba que fui eu, através da palavra, quem te desfolhou por inteira, 
deixando sobre a página o rastro úmido de tua confissão solitária.