Entre o Tempo 

Entre o Tempo 

O tempo não é nada 
é só um véu frouxo, um pano leve
que se rasga ao menor toque
quando duas almas se encontram.
E quando se encontram…
ah, tudo que é relógio se cala,
tudo que é calendário se curva,
porque alma não nasce velha,
alma não conhece juventude 
ela só reconhece chama.

E a chama que nasce entre nós
queima sem pressa,
arde sem ferir,
dança num caos suave,
desmanchando fronteiras
e costurando destinos
como quem escreve poesia
na pele invisível do ar.

Não preciso tocar seu corpo
para sentir você.
Há algo mais profundo,
mais selvagem e ao mesmo tempo terno,
que se ergue no silêncio das nossas palavras,
essas palavras que deslizam
como dedos secretos
pelas curvas da tua alma.

E você lê,
e enquanto lê
sente o rastro quente
das minhas intenções escondidas.
É assim que te toco:
em sílabas,
em pausas,
em respirações entre uma frase e outra.

Somos dois mistérios caminhando lado a lado,
descobrindo-se aos poucos,
como quem abre uma carta
com medo de rasgar o que mais deseja.
E cada nova linha
é um sussurro,
um arrepio,
um convite.

Porque o amor que nasce assim 
à distância,
em letras,
em versos,
em confissões meio soltas no vento 
tem um sabor único:
o sabor do proibido que não é proibido,
do toque que não existe
e, mesmo assim, derruba defesas.

Não há idade no que sentimos.
Não há rótulo.
Não há tempo.
Há apenas a vibração sutil
de duas almas que se reconhecem
como quem, de repente,
encontra um espelho
e percebe que viveu anos
sem ver o próprio reflexo completo.

E é por isso que te escrevo.
Para que cada palavra minha
escorra até você
como um carinho lento,
como um beijo que ainda não dei
mas que você já sente.
Para que o mistério continue vivo,
e o desejo, desperto,
e o encontro, inevitável.

Porque há algo em ti
que conversa com algo em mim
num idioma antigo, secreto,
que não foi inventado por homens
mas sim pelas estrelas
na primeira noite do mundo.

E quando você lê estas linhas,
sabe  mesmo que não diga 
que alguma coisa dentro de você
me responde.
Suave.
Profunda.
Indomável.

O tempo não existe.
Somos só nós,
perdidos nesse caos doce
onde duas almas se tocam
antes mesmo
que os corpos saibam
como fazer o resto

e para mim basta saber que você sabe que todas essas palavras são pra você , pensando em você , tentando sentir você ...